Platão (c. 427-347 a.C.) foi um filósofo grego clássico, discípulo de Sócrates e mentor de Aristóteles. Sua influência na filosofia, ciência política e educação, que perdura até os dias atuais, é inquestionável. Fundou a Academia de Atenas, uma das primeiras instituições de ensino superior do mundo, e suas obras são fundamentais para o entendimento da filosofia ocidental.
O que marca profundamente a filosofia platônica é a ênfase na realidade das ideias ou formas eternas. Segundo Platão, o mundo material é apenas uma cópia imperfeita do mundo das ideias, que é perfeito e imutável. Ele expõe essa teoria no diálogo "A República", onde imagina uma cidade ideal liderada por filósofos-reis que têm percepção sobre as boas ideias, necessárias, e governam com sabedoria, visando o bem comum.
A teoria do conhecimento de Platão, conhecida como teoria da reminiscência ou anamnese, argumenta que o conhecimento verdadeiro é inato e pode ser relembrado através da reflexão. Ele apresenta essa ideia no diálogo "Menão" ao examinar como um escravo não educado pode resolver problemas matemáticos complexos quando guiado adequadamente.
A “Alegoria da Caverna”, apresentada no diálogo "A República", é uma metáfora poderosa que descreve a jornada do conhecimento. Nela, prisioneiros acorrentados em uma caverna veem apenas sombras projetadas na parede, acreditando que essas sombras são a única realidade. Quando um prisioneiro é libertado e exposto ao mundo exterior, ele é inicialmente cegado pela luz do sol, mas de certa forma compreende a verdadeira natureza da realidade. Essa alegoria ilustra o processo de descobrir a realidade das ideias através do pensamento filosófico.
Além disso, Platão aborda a ética em seus diálogos. Em "O Banquete", ele explora a natureza do amor e a busca pelo belo e bom. Em "Fedro"(385-370 a.C.), discute a retórica e a escrita, enfatizando a importância da busca pela verdade em discursos e escritos.
Apesar de sua inquestionável contribuição ao pensamento civilizatório, a visão de Platão é alvo de críticas. Aristóteles, seu discípulo, contestou a ideia das ideias como entidades separadas. Outros filósofos, como os céticos, questionaram a possibilidade de alcançar conhecimento absoluto. Além disso, o sistema político proposto em "A República", com sua ênfase na hierarquia intelectual, foi criticado por ser elitista e impraticável.
Platão não apenas transmitiu as ideias de Sócrates, mas também desenvolveu conceitos originais. Sua teoria das três partes da alma, apresentada na obra "A República", divide a alma humana em três aspectos: o apetitivo, o irascível e o racional. Essas partes frequentemente entram em conflito, e a virtude é alcançada quando a parte racional governa as outras duas.
Na obra "Timeu", Platão apresenta uma cosmologia que descreve a criação do universo por um Demiurgo, um artesão divino, que modela o caos primordial com base em formas eternas. Isso fornece uma explicação metafísica para a ordem e a harmonia no mundo natural.
O conceito de amor platônico, frequentemente mal interpretado, tem origens nos diálogos "O Banquete" e "Fedro". Ele aborda o desejo de transcender o físico e alcançar o nível das ideias, em busca da perfeição e da beleza. O amor aqui não se restringe a relacionamentos românticos, mas sim a um anseio pela verdade e pela sabedoria.
A filosofia tem muito a agradecer a Platão. Seus diálogos foram fundamentais para a formação do pensamento ocidental e influenciaram pensadores posteriores, como Plotino, Santo Agostinho e filósofos modernos. Seu diálogo "As Leis" também contribuiu para o desenvolvimento da filosofia política, abordando temas como cidadania, justiça e educação.
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia, Sociologia (PPG UFMT) e Direito, e escreve em A Gazeta aos domingos (e-mail: antunesdebarros@gmail.com).
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