Sem querer descambar para um debate demagógico, mas, com tantas remessas de dinheiro público, fundo a fundo, com financiamento tripartite (União, Estado e Município), como é possível ver gente agonizar e até vir a óbito por não obter um remédio, ou por ficar na fila do SUS para cirurgia de uma cirrose hepática ou apendicite, crônicos e agudos, já em estágio de putrefação, por seis meses ou até aniversariar um ano?
Por outro lado, os hospitais privados têm ficado mais caros do que os mais requintados resorts de Dubai, bem como a indústria farmacêutica tem faturado bilhões de reais com os genéricos e similares, sem grande ou nenhuma segurança de qualidade, ao tempo que os medicamentos de referência custam uma facada no rim de quem chora ou ri.
Na verdade, o que há, é um grande esquema montado para tornar cada vez mais caro nosso direito inalienável de viver com qualidade e dignidade.
Assim, sendo detentores desse ou daquele antídoto, principalmente enquanto viger a exclusividade da patente sobre determinada medicação, realmente eficaz em face de alguma enfermidade, ou mais uma criação de marketing, apostando no efeito placebo e, nalguns casos, no abuso, tolerância e adicção dados como certos em suas próprias pesquisas randomizadas, os donos da indústria farmacêutica prestificam o valor final do remédio não pela soma dos investimentos em pesquisas, testes, publicidade, logística de distribuição e venda ao mercado interno e exterior, além das despesas de toda grande empresa, como com pessoal, custeio e investimentos.
A métrica sobre o máximo que podem cobrar acaba sendo aquilo que, se tiver de se endividar, fazer empréstimo consignado, desfazer-se de bens, móveis ou imóveis, ou até ficar sem crédito e com o cadastro sujo na praça e no território nacional, o paciente fará, convencido de que não há alternativa, sendo que, às vezes, não existem mesmo.
Como mudar esse cenário em que o pico da pirâmide do mercado absorve toda energia e recursos de quem está na base, dos seres humanos, trabalhadores e provedores das suas famílias?
Paulo Lemos é advogado e empreendedor social em Mato Grosso.
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