Ultimamente tenho desenvolvido uma curiosa “esquisitice” sociológica, a observação. Não seria uma simples olhadela ao redor, dessas usuais por aí. Tento ficar absorto, num lugar cheio, apenas contemplando. Pode ser numa palestra, num evento cultural, reunião de qualquer tipo, sempre enxergando mais que olhando. Dali salta conceitos, teorias sobre comportamentos, linguagens, especiais modo de ser e encarar a vida e por aí vai. É muito interessante essa prática.
Também tenho observado as postagens nas redes sociais e comentários em sites da internet. Portanto, de “corpo presente”, enxergo a alma humana, seu modo de ser, se relacionar, encarar os desafios do dia a dia. E pela tela do computador, a análise da real motivação de quem tira um tempinho de seu dia para dar uma “pitada” no assunto alheio; público, mas de interesse imediato de outrem.
Assistir a um pai arrastar seu filho pela rua, apressado, como quem acredita ter as infantes pernas o mesmo tamanho das suas e, quase que instantaneamente, uma mãe a acariciar seu rebento, ternamente, é de um diálogo produtivo fascinante para o intérprete. Ler a manifestação anônima a propagar seu sentimento em comentários nos sites de notícias, mesclando poesia e drama, amor e ódio, elixir e veneno, construção e desconstrução, também.
O Brasil vem discutindo, desde a Lei 12.965/2014, o marco civil regulatório das atividades nas redes sociais. As discussões só estão começando. E promete. As coisas não estão totalmente corretas, mas também não estão erradas. A Constituição do país proíbe o anonimato. Por outro norte, é firme na defesa da liberdade: cultural, artística, jornalística, de manifestação e do pensamento. Até o senso comum se aperceber do inusitado e importância dessas discussões, o debate já vai ter andado a mais de léguas. Obama e seus espiões apressaram-no. Lembram?
Mas a internet, bem ou mal, pode ser mudada até por decreto. E o comportamento das pessoas? Daquele pai que a tudo arrasta na sua pressa de chegar? Do anonimato que só constrói intrigas e futricas? Do canibalismo insaciável da autofagia? Das maledicências ditas às escondidas? Essas são combatidas somente com postura moral, educação, tudo aliado à força da repressão penal e civil em sendo descobertas. É o que sobra.
Em imperdível livro, “A Era dos Escândalos”, Mário Rosa contextualiza sobre a crise de imagem produzida pela imprensa: “Destruir a reputação da mídia não a fará melhor. Muito mais importante - e produtivo – é estudar as críticas, aprender com elas. E, na medida do possível, elevar o padrão de futuras coberturas jornalísticas, em nome do interesse público”. Até temos teóricos a indicar o caminho, mas e aquelas outras, passadas de boca em boca para ouvidos sibilinos e bem atentos? As de rodapé, anônimas, dos websites?
A dor de uma injustiça é terrivelmente destruidora. Relativizaram as calúnias, injúrias e difamações. Nem a quem responder se sabe. Muito mais lógico, e perfeito do ponto de vista social, são as críticas, ainda que pesadas, dos que assinam embaixo. De certo modo são amparadas moralmente, encampam a liberdade que se goza em tempos democráticos.
O debate aberto, público, é sempre salutar. Continuaremos observando, enxergando e procurando nos gestos das pessoas o paradigma humanitário.
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia e Direito e escreve aos domingos em A Gazeta (e-mail: bedelho.filosofico@gmail.com).
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