Na minha infância lá em Minas Gerais a expressão “zangou” tinha um uso muito abrangente. Era muito usada quando se estava fazendo doce caseiro nos famosos tachos de cobre e na hora de concluir o ponto ele talhava. Ou seja, “zangava” e se perdia. Não dava o ponto. Podia ser também numa conversa. Quando “zangava” dava complicação. Tudo que dava errado, de algum modo “zangava”.
Feito o registro da expressão, vem agora o seu sentido prático na atualidade. “Zangou” a relação dos poderes em Mato Grosso. A tal de operação dos grampos começou de um jeito, caminhou de outro e vai se concluir com tudo “zangado”. Nesta semana entraram em rota de colisão os poderes Executivo, Judiciário e o Ministério Público Estadual. São órgãos de munição grossa.
O desembargador Orlando Perri invadiu a área da diplomacia do MPE e do governo. Em troca recebe toda a má vontade do MPE e tiros de calibre grosso do Palácio Paiaguás. Por ora, ferida na asa com arma de grosso calibre, a Assembléia Legislativa está lambendo as próprias feridas e não se misturou. Mas conhecendo a índole da Casa e as confissões dos seus pecados, é só questão de tempo.
Nesse caso teremos uma guerra de poderes em Mato Grosso. O desembargador Orlando Perri, no dizer popular é “carne de pescoço”. O governador Pedro Taques também. Os procuradores do MPE idem. A Polícia Militar e Civil estão no meio do tiroteio. Mal-humoradas e desacreditadas no correr desse problema dos grampos. Na prática, se alguém quisesse montar uma boa confusão pra “zangar” tudo, não conseguiria com tanta perfeição.
Como nunca vimos uma confusão desse tamanho, não dá pra dizer até onde todas as insanidades poderão chegar. Perdeu-se de uma vez por todas o bom senso geral. “Zangou” tudo.
Ah: quando se perdia o ponto do doce ou do sabão caseiro, tinha que se jogar fora tudo. O que fazer, então, em Mato Grosso?
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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