A busca de ‘saídas’ é um tema bastante caro em Mato Grosso, sejam elas geográficas (por rodovia, ferrovia, hidrovia), sejam num sentido maior e mais abstrato, o da geopolítica.
Começo com o assunto da moda, as ferrovias. Uma delas, que voltou ao debate recentemente, é a Transoceânica, a “ferrovia dos chineses” que iria do Atlântico, no Brasil, ao Pacífico (Ilo, no Peru). Ou da chamada Ferrogrão, que iria de Sinop a Miritituba, no Pará. E outras. Só que todas, igualmente, têm ficado no papel, nas boas intenções, nas reuniões agendadas, nos relatórios de trabalho projetados, mas não cumpridos.
Na verdade, as saídas físicas são apenas o aspecto mais visível, a famosa “ponta do iceberg”. Porque, efetivamente, o nó aperta em pontos mais esparsos, mais abrangentes. De fato, é preciso buscar respostas para os motivos do isolamento de Mato Grosso no contexto do país, isolamento este que já foi muito maior do que é hoje, mas ainda persiste em boa medida. O fato é que Mato Grosso, destaque internacional na produção de grãos e carne, sem alternativas de modais de transporte, fica refém do modal rodoviário, com todos os problemas que ele acarreta como a precariedade das rodovias, os enormes custos para construir novas, bem como para fazer a manutenção da malha viária atual, aumentando o custo Brasil – para não falar do “custo Mato Grosso”.
Então, a questão das ferrovias traz outras perguntas, lastreadas na realidade do Estado. A principal: a quem isso interessa?
Quando, há poucos dias, fui entrevistado pelos jornalistas Augusto Nunes, Camila Della Valle e Mikhail Favalessa no programa “O Livre”, da Band, tive oportunidade de avançar um pouco o debate e refazer a pergunta, estendendo-a mais um pouco: a quem interessa não só o nosso isolamento dentro do país como o fato de Mato Grosso ainda estar tão preso a este praticamente único modelo de desenvolvimento?
Ressaltei que neste trabalho do qual venho participando na UFMT de fazer com que cada vez mais a Universidade ofereça respostas efetivas às mais diversas demandas da coletividade, buscando contemplar pessoas de todos os estratos sociais, temos o foco de mais um ciclo de desenvolvimento do estado, o da industrialização. Mato Grosso teve um boom em fins dos anos 70, passando por toda a década de 80 e 90, até os dias atuais, que nos colocou na condição de verdadeiro “pavilhão nacional do orgulho do agronegócio”. Mas pergunta-se: vamos permanecer por mais quantos anos neste modelo? Creio que é preciso mexer um pouco na pauta de nossas exportações, ampliá-la ao incluir produtos oriundos da agroindústria, o médio e o pequeno produtor.
Pensando nisso é que, entre outras ações, a UFMT oferece cinco novos cursos, no campus Várzea Grande, em áreas da engenharia: Computação, Minas, Transportes, Química e Controle e Automação.
Sintetizando: este salto, na perspectiva de contemplar o novo ciclo de desenvolvimento de Mato Grosso, nós estamos dando. A meu ver, não tem outra forma de fazer isso a não ser com educação e informação. E é precisamente isto que estamos fazendo.
Fabrício Carvalho é maestro e secretário de Articulação e Relações Institucionais da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)
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