Você já percebeu como as festas de fim de ano são tomadas por alimentos que parecem perfeitos: embalagens chamativas, preparo imediato, sabor doce e salgado que agrada todo mundo? Panetones, biscoitos, fast food no intervalo do trabalho, refrigerantes gelados e petiscos industrializados... são convenientes, sim. Mas será que essa "praticidade" pode estar deixando seu coração mais vulnerável?
Um grande estudo científico, publicado recentemente por pesquisadores ligados à Sociedade Europeia de Cardiologia e baseado em mais de 39 mil pessoas acompanhadas por mais de 25 anos, trouxe um alerta claro: quanto maior a sua exposição a alimentos ultraprocessados, maior o risco de morrer por doenças cardiovasculares como infarto e insuficiência cardíaca ao longo da vida.
Em números, quem consumia mais ultraprocessados tinha 19% mais risco de mortalidade cardiovascular do que quem comia menos desses produtos, mesmo depois de considerar fatores como idade, estilo de vida e hábitos de saúde.
Mas antes de entender o que isso significa para você, vamos começar pela história de Marta.
A história de Marta: entre a praticidade e a saúde
Marta é uma profissional ocupada. Com 45 anos, carreira em ascensão, filhos, compromissos e pouco tempo, ela encontrou nos ultraprocessados um "atalho" para as refeições diárias. Cafés da manhã comprados na padaria industrial, lanches embalados no trabalho, refeições prontas no fim da tarde. Tudo ajudava a ganhar tempo — até que o médico dela começou a falar sério sobre colesterol, pressão e inflamação.
Foi então que Marta começou a se perguntar: "O que esses alimentos realmente fazem no meu corpo? O que acontece a longo prazo?"
Os cientistas que conduziram o estudo usaram uma classificação internacional chamada sistema NOVA para medir o quanto as pessoas consumiam alimentos ultraprocessados — ou seja, produtos que passam por múltiplas etapas de produção industrial, com adição de açúcares, gorduras, sal e aditivos, mas que contêm poucos nutrientes protetores como fibras, vitaminas e compostos anti-inflamatórios.
O que a ciência mostra: como os ultraprocessados afetam o coração
Alimentos ultraprocessados não são apenas "comida prática". Eles carregam características que, acumuladas ao longo dos anos, podem desregular mecanismos metabólicos importantes:
- são ricos em sódio, gorduras saturadas e açúcares, que podem elevar a pressão arterial e inflamar vasos sanguíneos;
- têm baixo teor de fibras e antioxidantes protetores, que normalmente ajudam a manter o sistema cardiovascular equilibrado;
- favorecem ganho de peso, resistência à insulina e desequilíbrios lipídicos — fatores que colocam ainda mais carga sobre o coração.
Esses mecanismos são consistentes com estudos de várias partes do mundo, que mostram associações entre altos níveis de ultraprocessados e doenças cardiovasculares, eventos como infarto e até mortalidade por causa cardíaca.
Isso significa que você nunca mais pode comer alimentos prontos?
Não necessariamente. A ciência não diz que qualquer consumo ocasional é fatal. O que os dados mostram é que quanto maior a proporção de ultraprocessados na sua dieta ao longo dos anos, maior tende a ser o risco para o seu coração. O impacto da alimentação é cumulativo: hábitos diários moldam seus riscos futuros.
Por isso, a chave não é eliminar toda conveniência, mas reduzir a dependência de ultraprocessados e fortalecer práticas alimentares que protejam seu sistema cardiovascular.
Como proteger seu coração no dia a dia (inclusive nos feriados)
A seguir estão medidas práticas e científicas para reduzir riscos e manter sua saúde cardiovascular especialmente durante os feriados de fim de ano, quando as tentações são maiores:
1. Prefira alimentos "de verdade"
Alimentos in natura ou minimamente processados — frutas, verduras, legumes, grãos integrais, oleaginosas, carnes frescas e peixes — têm nutrientes que ajudam a equilibrar o organismo.
2. Leia os rótulos
Ao comprar produtos embalados, procure aqueles com menos ingredientes artificiais, menos açúcar e menos sódio.
3. Planeje as refeições festivas
Nos dias de festa, organize menus com base em saladas coloridas, carnes magras, frutas frescas e versões caseiras de receitas tradicionais.
4. Diminua gradualmente a frequência
Reduzir ultraprocessados não precisa ser drástico. Comece substituindo um item por dia por uma alternativa mais nutritiva.
5. Mantenha hábitos consistentes
Mesmo que você tenha um dia com comida menos saudável, voltar rapidamente a padrões alimentares equilibrados reduz impactos negativos.
6. Hidrate-se e evite bebidas açucaradas
Substitua refrigerantes e bebidas adoçadas por água, água com gás ou chás sem açúcar.
7. Movimente-se
Exercícios regulares ajudam a controlar pressão arterial, melhorar o metabolismo e diminuir inflamação.
8. Atenção ao equilíbrio
Combine nutrição saudável com descanso adequado e controle do estresse — todos influenciam o risco cardiovascular.
Conclusão
A ciência está nos dizendo algo importante: o padrão alimentar importa tanto quanto escolhas isoladas. Um padrão rico em alimentos ultraprocessados está ligado a um maior risco de mortalidade por doenças cardiovasculares ao longo das décadas.
Mas a boa notícia é que não estamos condenados pelo que comemos no passado. Cada escolha hoje pode fortalecer seu coração amanhã. E ao navegar pelos feriados de fim de ano, com consciência e pequenas ações práticas, você pode celebrar sem abrir mão da sua saúde.
Dr. Max Wagner de Lima é Cardiologista – CRM 6194 / RQE 2308?Fundador da Luminae – Excelência em SaúdeCriador do Protocolo ROTINA.

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