Uma pesquisa divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em outubro do ano passado apontou que 84% da população consideram o Brasil um país burocrático. E que ‘o excesso’ de burocraciaatrapalha tanto a rotina das empresas, quanto a do cidadão comum, além de significar um estímulo à corrupção.
Mas será que essa percepção do brasileiro sobre o processo burocrático é realmente verdadeiro? O que acontece com empreendedores e gestores públicos que preferem protelar a implantação de processos e rotinas que visam, em sua essência, trazer mais controle e consequentemente eficiência às organizações?
Apesar de ter um ‘peso’ cultural, o sentido original da palavra burocracia, conforme o sociólogo Max Weber, sugere uma forma particular de se organizar as atividades, de modo que não haja espaço para preconceitos ou paternalismo, a partir de regras claras e que precisam ser cumpridas por agentes (burocratas) de modo muito objetivo.
Os procedimentos devem estar explícitos e regularizados, como divisão de responsabilidades e especialização do trabalho, hierarquia e relações impessoais. Ao analisar melhor, compreendemos então que o modelo burocrático tem mais a ver com ‘organização’, concorda?E que o que taxamos negativamente representa um conjunto de “disfunções burocráticas”, ou seja, um excesso de formalismo que trava e leva as operações a ficarem lentas e com muitos retrabalhos.
Minha experiência mostra que para a empresa alcançar níveis cada vez melhores de crescimentoé fundamental que se quebre esse paradigma negativo em relação à burocracia. Ou seja, há sim que se criar uma rotina com normas e procedimentos que busquem incessantemente aperfeiçoar o nível de organização. Isso significa, em outras palavras, abolir o ‘jeitinho’, o ‘amadorismo’e a ‘pessoalidade’ em todas as áreas.
Voltando à teoria da burocracia (de Weber), vamos entender, por exemplo, que no desempenho de cada cargo ou função devem existir normas impessoais e escritas muito claras; também é fundamental a divisão do trabalho e especialização das tarefas e competências.
A padronização das rotinas de trabalho é um elemento chave para a manutenção e estabilidade do nível de atendimento e serviço. Imagine sua empresa depender apenas do conhecimentode alguns funcionários para a execução das rotinas, sem estar com algum nível de formalização e quando da possível saída destes, além de perder conhecimento, vai demorar na retomada da qualidade de execução e prestação de serviços, atingindo clientes internos (funcionários da empresa) e externos.
Desse modo, é extremamente importante entendermos como o processo de organização irá trazer benefícios para a empresa. Para termos organização e controle é necessária a formalização, ou seja, a documentação dos processos de trabalho, que demandam tempo e às vezes é necessária a contratação de profissionais especializados para esse trabalho.
Com isso implantado, a empresa ou instituição é a detentora do método (método é uma palavra que provém do termo grego methodos “caminho” ou “via” e que se refere ao meio utilizado para chegar a um fim) de trabalho. Ele retém o conhecimento e consegue replicar e manter boas práticas, bem como mitigar possíveis fraudes e desvios.
Lembrando o guru brasileiro em gestão Vicente Falconi, liderar é bater metas com o time fazendo o certo. E como fazer o certo constantemente? Com a rotina padronizada, documentada, controlada e medida.
Tenho testemunhos de vários gestores que dizem que implantar um processo de gestão dá trabalho e é burocrático. A reflexão que faço é que imaginem o custo invisível da desorganização, do descontrole e da informalidade. Apenas pensem nisso!
Kelly Nunes, administradora pela UFMT, especialista em Gestão Estratégica Avançada, 20 anos de experiência em gestão empresarial, processos e planejamento estratégico e sócia proprietária da Nunes Brandão Consultoria Empresarial.
Ainda não há comentários.