Jair Bolsonaro é o primeiro presidente que perdeu a reeleição. FHC, Lula e Dilma foram reeleitos.
Chama a atenção que, em 2022, ano eleitoral, o PIB deve crescer 3%, o desemprego, que estava em 13% quando ele assumiu o governo, caiu para 8.3% neste ano. Também não houve até agora nenhum caso grave de corrupção no governo. Com PIB crescendo, inflação sob controle, desemprego caindo e sem escândalo de corrupção, como explicar a derrota?
Talvez Bolsonaro tenha perdido para ele mesmo. Seu comportamento e frases ao longo do mandato pode ter carimbado essa derrota. Na internet tem dúzias de frases polêmicas do presidente durante seu mandato. Busquei algumas da época da pandemia.
Em abril de 2020, ele disse, “E daí? Lamento. Quer que eu faça o que? Eu sou Messias, mas não faço milagres”. Em outra ocasião disse que “quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda, Tubaína". Fazia chacota e defendia medicamento inapropriado num momento que o número de mortes pela covid crescia muito.
Mais uma. “Tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio, pô. Tem que deixar de ser um país de maricas”. Sobre vacinas, ironizava que a Pfizer não se responsabilizava por efeitos colaterais, “se você virar um jacaré é problema seu”.
Ou essa outra “chega de frescura e mimimi” sobre covid também. Ou “tem alguns idiotas que ainda ficam em casa”. O mundo inteiro recomendando isolamento social e o presidente indo contra no meio de enorme crise sanitária.
O receio era que o isolamento atingisse a economia e não ficaria bem politicamente para seu governo. Criou-se até, naquele momento, uma inventada disputa ou o que seria pior: economia despencando ou aglomeração e aumento de mortes pela covid?
Mais frases polêmicas. Sobre vacinação disse que “como eu nunca fugi da verdade eu não vou tomar vacina e ponto final”. Por ser a autoridade maior do país, acabava mandando um recado de que tomar vacina não era importante. Ou ainda fazia chacota imitando alguém com falta de ar.
Pesquisas mais tarde mostraram que o impacto da pandemia foi maior entre mulheres e jovens. As mulheres achavam errado e até desumano aquele comportamento do presidente. E num país em que o eleitorado feminino é até maior que o masculino. Talvez Bolsonaro tenha perdido a eleição por causa deste segmento.
Tem tantas outras frases ditas pelo presidente sobre tantos outros assuntos, mas pego só mais uma num ataque à imprensa, outra área que Bolsonaro tratava com desprezo.
Disse que “quando eu vejo a imprensa me atacar dizendo que comprei dois milhões e meio de latas de leite condensado, vai pra puta que pariu imprensa de merda. É para enfiar no rabo de vocês da imprensa essas latas de leite condensado”.
Em tantos outros momentos, nos quadradinhos da vida, saiam frases ácidas e esquisitas. Juntando isso e outros dados da atuação do presidente, talvez se encontre o motivo de sua derrota. Não foi a economia, corrupção ou desemprego, possivelmente foi Bolsonaro que derrotou Bolsonaro.
Alfredo da Mota Menezes é professor, escritor e analista político.
E-mail: pox@terra.com.br
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