Chegou ao final à disputa eleitoral deste ano. Disputa decidida em segundo turno. Até porque nenhum dos oito candidatos obteve votação necessária para liquidar a fatura no dia 15 de novembro. Foi preciso uma nova campanha, novo embate entre os dois mais votados, e, então, o eleito. Eleito com a maioria dos votos válidos, e não com a maioria dos eleitores existentes. Isto é importante que se diga. Ao dizê-lo, não se quer desvalorizar a vitória eleitoral de alguém, tampouco desqualificar sua eleição. Longe disso. Afinal, vitória alguma pode ser desprezada. Ainda que seja com uma diferença pequena, simplesmente por um voto (o que não é o caso em análise).
Vitória é sempre vitória. Independentemente dos números dela. Mesmo que esses números sejam, e sempre os são bem menores que a maioria da quantidade do eleitorado.
Detalhe que não pode, nem deve ser passado despercebido. De maneira nenhuma. Mas sempre lembrado, e realçado, e se preciso for, repeti-lo por diversas vezes aos ouvidos do ganhador, até que a sua ficha venha a cair, e, então, enxergue o óbvio: ele precisará governar para o conjunto dos munícipes, mesmo àqueles que não estiveram em sua campanha, nem lhe deram seus votos.
O exercício de governar um país, uma unidade, um município está acima das picuinhas políticas, dos interesses de apoiadores. Reconhecer isso, e imediatamente após o resultado das urnas que lhes são favoráveis, é o papel primeiro dos governantes. Mas, infelizmente, são poucos, pouquíssimos os políticos vitoriosos em uma disputa eleitoral que têm noção disso, ainda que tenham, e sempre tem alguma pessoa a buzinar-lhes os ouvidos para a obviedade. Pois têm o revanchismo como arma, a intolerância como prática costumeira. Não é preciso ter uma lupa de alta potência para enxergar essas figuras-governantes. Muito menos incorporar o espírito de Sherlock Holmes. Elas, as figuras-governantes deste quadro, podem ser identificadas a olho nu. E, desse modo, serão governantes ruins, improdutivos, a despeito da propaganda, do jogo de marketing.
Por outro lado, governar é enfrentar divergências e posicionamentos distintos. Vive-se em uma democracia, e, no Estado democrático, o discurso único nunca prospera, afinal, a sociedade é plural. Daí as leituras diferentes e divergentes. Cabe ao gestor melhor lidar com a situação adversa. E, ao fazer isso, demonstra capacidade, habilidade e competência para exercer o cargo para o qual fora eleito pela maioria dos votos válidos.
Tripé que atrai a atenção e a simpatia dos governados. Êxito importante. Pesa sobremaneira em sua administração. Tanto que a faz se destacar. Sobressair-se das que a antecederam. Ainda que não se possa, e geralmente não se pode mesmo, comparar a gestão “A” com a “B”, pois a situação vivida por aquela ou por esta foi bastante diferente, e os fatos que as nortearam são distintos, inclusive seus atores, também o é a crise vivida, ainda que os fatores que a motivam sejam os mesmos.
Assim, governar é uma atividade que requer, acima de tudo, competência e habilidade. Qualidades que não são, nem podem ser medidas, avaliadas e identificadas pelo eleitorado durante a campanha eleitoral. Enganam-se quem pensam ao contrário. Aliás, durante a campanha, não se dá nem para conhecer os candidatos. Até porque cada um deles se apresenta como um produto, e, como tal, há todo o trabalho da equipe de marketing, baseado no ilusionismo e na fantasia (outra obviedade). Ignoram-se o conteúdo, o planejamento e o programa de governo. Ausências que se somam as faltas. Faltas e ausências que marcam uma administração. Marcam-na tanto que não tem como não classifica-la de “ruim”. Perde-se a sociedade. Ultimamente, raros são os casos em que a sociedade ganha. É isso.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.
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