• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Desmatamento, entrave econômico

Centro das atenções mundiais, algumas decisões da Conferência do Clima, realizada pela ONU, no Egito, a COP27, podem afetar de forma marcante a economia de Mato Grosso.

Nesta última terça feira (08), quatorze das maiores empresas do agronegócio mundial apresentaram ao plenário da COP27 um ambicioso programa de redução das emissões resultantes de alterações do uso da terra em suas operações. Uma das principais medidas que constam no plano é a eliminação do desmatamento nas cadeias produtivas em que as processadoras de alimentos atuam direta e indiretamente. As empresas que desenvolveram o programa se comprometem a traçar caminhos para os setores de óleo de palma, soja e pecuária, protegendo as cadeias globais de alimentação e, ao mesmo tempo, garantindo os meios de subsistência das famílias e empresas produtoras.

Entre outras, o programa é encabeçado pelas companhias ADM, AMAGGI, BUNGE, CARGILL. MARFRIG, JBS, LOUIS DREIFUSS, COFCO INTERNACIONAL. Todas já operam em Mato Grosso. Daí, a constatação de que a implementação dos objetivos, metas e ações do programa impactarão decisivamente a cadeia produtiva agropecuária do estado e, por consequência, toda a sua matriz econômica, já que essa cadeia de produção envolve 56% do PIB estadual.

Segundo relatório do Painel Climático da ONU, 23% das emissões do efeito estufa têm ligação direta com mudanças no uso do solo e atividades agropecuárias, impulsionadas, especialmente, pela derrubada de florestas para dar lugar às pastagens e operações correlatas. Para ampliar a rede de apoiadores dos compromissos, o programa detalha como as empresas vão se relacionar e colaborar com todos os atores da cadeia produtiva, envolvendo desde governos das três esferas, produtores (empresas agropecuárias e famílias), fornecedores de suprimentos, chegando até às instituições financeiras que financiam as operações do setor. Inclui, naturalmente, definição de políticas públicas, órgãos reguladores, auto-regulação, até treinamento, incentivo e financiamento para os agricultores tornarem-se agentes ativos da preservação dos recursos naturais. Todas as empresas que lideram o plano afirmam que aperfeiçoarem suas compliances próprias, monitoram suas respectivas redes de fornecedores diretos e indiretos e aperfeiçoaram seus mecanismos de sustentabilidade por meio de políticas e práticas de ações ambientais, sociais e de governança corporativas (ESG).

A grande mensagem transmitida pelo mundo empresarial é: a indústria de alimentos colocou em suas estratégias mercadológicas e de sobrevivência a longo prazo que a sustentabilidade agrega valor aos seus produtos, suas marcas e às suas imagens. Fatores sem os quais nenhuma empresa gera lucros e se sustenta em um mercado dos mais competitivos. Tiveram forte impulso da elevação do grau de exigência dos consumidores. Fato que, por sua vez, forçou governos do mundo inteiro a também elevarem seus níveis de exigências regulatórias, sociais, ambientais, trabalhistas e tributárias para autorizar a operação dessas companhias em seus territórios.

Em resumo, o que antes eram apenas apelos ambientais, transformou-se em fator econômico relevante para a indústria de processamento de alimentos e toda sua longa cadeia de valor.

Mato Grosso, em apenas quatro décadas, transformou-se no maior produtor agropecuário nacional. O novo movimento econômico do estado será tornar-se o maior industrializador de alimentos do país. Urge, portanto, que as cadeias produtivas agropecuária e agroindustrial adaptem-se às novas exigências dos consumidores mundiais.

 

Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em  MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP  (vivaldo@uol.com.br)



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