"Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará”, nos ensinou lá atrás o brilhante compositor Lulu Santos. Nesses últimos dias tenho buscado inspiração na poesia pra tentar colorir algumas idéias sobre os vãos e desvãos que estão acontecendo no entorno da gestão pública em Mato Grosso.
Neste momento a gestão do governo de Mato Grosso vive um enorme inferno astral: a crise dos grampos ainda em andamento e com sinais muito pessimistas à frente; a questão do VLT que enrolou de vez, a questão da iminente greve do funcionalismo estadual, a crise na saúde com contorno cada vez mais políticos. Todas essas nuances tem potencial de procriarem. E o governador Pedro Taques no meio do furacão.
Os desdobramentos financeiros da atual crise econômica brasileira já bateram às portas do governo estadual. Pior do que tudo isso seria a possibilidade de se atrasar salários. Deus queira que não. Mas a crise financeira não tem hora e nem dá sinais de que vai diminuir tão logo. Mas o que gostaria mesmo de registrar é que neste momento está em andamento um conjunto muito grande de transformações envolvendo as gestões públicas e a sua relação com o mundo privado. Ao final, absolutamente certo é que todos os métodos da gestão pública terão que mudar. Desde as relações mais simples com recursos públicos, às relações inter-poderes sempre tão frouxas e promíscuas.
Da mesma forma, as relações entre o público e o privado. As relações de promiscuidade do funcionalismo público com o comprometimento à cidadania que lhes paga os salários muito maiores do que no mercado privado. A falta de gestão dentro dos chamados poderes, o luxo e a ostentação de poder, as decisões tomadas à luz de interesses distantes da realidade cidadã. Queiramos ou não, Lula Santos tem razão. A imensa crise gerada pelo PT no governo, cabe perfeitamente dentro do poema “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”.
O risco talvez seja ignorar-se essa realidade mutante. Aí a crise se estenderá por longos anos e deixará a terra arrasada por muito tempo. O mundo caminha veloz. Depois nunca recuperaremos o tempo perdido.
De novo encerro este artigo voltando ao tema dos dois anteriores: ou se abrem conversações largas e ilimitadas, ou a morremos à beira da água. A gestão Pedro Taques precisa se encorpar à luz da abertura de amplo e ilimitado diálogo coletivo e institucional. Não cabem mais federações das indústrias, do comércio e serviços, dos transportes e da agricultura e outras representações classistas e sindicais à margem do processo político. Nem, tampouco, os poderes do lado de lá, da margem fingindo que não fazem parte da crise. Não cabem mesmo isolamentos neste momento, sob pena da crise engolir todo mundo. Crises são boas pra apontar saídas inteligentes.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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