O título desse artigo é uma frase conhecida dos cuiabanos. Está envolta, normalmente, em tom de brincadeira quando é dita em situação de arrocho, invocando a proteção materna como a única saída. Ao pé da letra, é saudade mesmo. Saudade de mãe, eu diria. Pura saudade, assim como nesse 12 de maio. Mais um dia para amanhecer vestido de lembranças por dona Virgínia Ferreira de Souza, minha mãe, que foi levada por Deus aos 47 anos.
Quando ela partiu prematuramente, acreditei que foi para o Céu. E foi mesmo. Imaginar que estava ao lado de Deus era a forma de amenizar o sofrimento. Fiquei para trás com apenas 6 anos de vida, mas, com maturidade suficiente para tocar a vida em frente. Desde então, às vezes me pego pensando nela mesmo com a rotina sendo ocupada por dezenas de novas pessoas a cada dia. Aprendi que saudade de mãe é um vazio que nunca se preenche.
Por tantas vezes dormi e acordei com saudade da dona Virgínia. Em dias difíceis, apertava mais. Hoje, o nome dela não ecoa apenas na nostalgia, mas dentro da minha casa, dentro do carro e em qualquer outro canto que precise chamar por Virgínia. Minha filha de sete anos ostenta o nome da minha mãe. Foi uma justa homenagem e, Virgininha, como a chamo, tem até algumas qualidades da avó. Uma delas é a alegria e a persistência.
Às vezes tento buscar na memória imagens do rosto dela, mas o que vem chegando sem pressa são sons e cheiros. A voz dela está sempre presente, principalmente quando reproduz os momentos em oração antes de dormir ou ao pé do rádio, ouvindo o programa ‘A Hora da Ave Maria’, às 18h pontualmente. Mamãe era católica fervorosa e até o meu nome foi fruto de uma promessa que ela fez para amenizar as complicações do parto.
Outro som que não sai da mente é o estalo das roupas no batedor de pedra. Mamãe lavava roupas no riacho e a esfregadeira era uma pedra que já estava lisa de tanto uso. Enquanto as roupas quaravam ao sol, em cima das moitas de capim, eu tomava banho pertinho das vistas dela. Era um olho na roupa e outro em mim. Muito carinhosa e protetora, felizmente.
Os cheiros que normalmente voltam em situações especiais, são os da comida. Tem algo melhor do que comida de mãe? Não há. Tínhamos uma vida muito simples, mas nunca deixamos de ter uma boa alimentação por esforço pessoal de dona Virgínia. Mesmo que fosse arroz, feijão e ovo, o cheiro do alho e o sabor dos temperos verdes que ela gostava faziam a diferença. Tudo o que fazia tinha muito carinho envolvido.
Nesse Dia das Mães me pego pensando em outra coisa: Como tudo mudou. Atualmente, a concepção do que vem a ser família, sua formação, entre outras características, é um conceito extremamente mutável, acompanhando sempre a evolução dos ideais sociais, da ciência, costumes e, sobretudo, pelas transformações provocadas pela Internet. Já não sentamos mais em cadeiras de fio ou tamboretes nas calçadas para um bate-papo. Agora é interação online, e entra quem quer na conversa lá do outro lado do mundo.
É lógico que faz falta aquela forma antiga de educação, mas tenho que respeitar e reaprender sempre sobre essa forma mutante de convivência. Mesmo assim nunca deixei de repassar a Virgininha cada ensinamento tradicional ao modo da minha mãe. Foi assim também com meus outros filhos, Antônio Jr., de 29 anos, e João Paulo, de 27 anos. Meus netos Davi, de 03 anos, e o recém-nascido Caio, filhos do Antônio, certamente também vão se aproveitar de um avô coruja, carinhoso e protetor. Aí entra o reforço da Eliane, minha esposa querida e a mulher linha de frente em nossas vidas.
A saudade daqueles tempos antigos e a forma com a qual minha mãe me tratava moldou em mim um cidadão ciente dos direitos e deveres. Agradeço a ela por tudo. O tempo não volta e devemos evoluir juntamente com a sociedade, respeitando sempre a maior conquista já obtida ao longo do tempo, a liberdade, em todas as suas formas. Foi o que minha mãe me ensinou e, por isso, vou sempre repetir: Ai que saudade da mamãe!
Toninho de Souza é jornalista e deputado estadual pelo PSD-MT.
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