Brasília, sede dos poderes da república, contagia o Brasil com fatos bizarros e picuinhas do cotidiano. Por causa dessas esquesitices muitos lugares no exterior fazem piadas sobre República de Banana, a desconfortável citação que persegue os países da América Latina.
Um tal de Daniel Silveira ficou no centro das conversas na capital federal e espalhou para o Brasil. Esse deputado esculhamba o STF e quem mais aparecer pela frente, como se pode ler em suas sandices. O STF o condena e o presidente da república o indulta. E diz que ficou feliz com essa atitude, mesmo achando absurdas as falas do deputado.
Aí entraram os juristas discutindo dias seguidos se o indulto é válido, se o cara perde ou não o mandato ou se pode candidatar à reeleição. Brasília pautando o país para discutir besteiras.
Na Câmara dos Deputados, na escolha de membros para diferentes comissões, o tal do Daniel foi escolhido para duas das mais importantes. Os congressistas mandaram uma banana para a opinião pública.
Um ministro do STF, num evento no exterior, insinua que os militares poderiam se posicionar contra as urnas eletrônicas. O Ministério da Defesa solta uma nota dura contra o Ministro, como se fosse a resposta a uma provocação de outro país à honra nacional.
Como os assuntos absurdos de Brasília pautam o país, lá vem a ilação de que as forças armadas publicaram uma nota equivocada. Agora não podem falar contra a urna eletrônica. Se falar, vai confirmar que o Ministro do STF estava correto. Não parece um circo?
No meio dessa palhaçada nacional volta o presidente a dizer que não confia nas urnas eletrônicas. Sugerir que as forças armadas façam uma apuração paralela dos votos da eleição, ou seja, somente o homem de farda é honesto neste país.
Um presidente dizendo para o mundo que o processo eleitoral no país em que foi eleito várias vezes é corrupto e inconfiável. O que vai pensar o exterior sobre eleição no Brasil se o próprio presidente diz que não confia? Não parece que Brasília enlouqueceu?
Apareceu manifestação em Brasília sobre o alto número de desempregados no país? Do aumento da desigualdade? Da inflação que assusta? O presidente falou sobre mudanças para melhorar a educação? Ou como reverter a crescente desindustrialização do país?
No Brasil a indústria já respondeu por cerca de 30% do PIB, hoje está em 11%. Gerava 25% dos empregos, hoje 15%. Empregos de mais qualidades, onde se paga melhor. Alguém falou sobre as muitas empresas multinacionais que abandonaram o Brasil nos últimos anos? Empresas do porte da Audi, Ford, Roche, Sony, Mercedes, Nikon.
Quais os motivos que levam o país e perder essas empresas e por que a indústria brasileira não tem o dinamismo de antes? O que o governo ou o Congresso nacional estão fazendo para tentar estancar essa morte anunciada?
O mais importante para Brasília é o indulto de um esquisito, urna eletrônica e outras tantas besteiras com que aquele centro do poder pauta o Brasil.
Alfredo da Mota Menezes é professor, escritor e analista político.
E-mail: pox@terra.com.br site: www.alfredomenezes.com
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