Há algum tempo escrevi neste espaço sobre a possibilidade do Brasil entrar num processo irreversível de ruptura política. Com desdobramentos, sociais, econômicos, institucionais e outras consequências graves como prejuízos à imagem internacional do país. Ontem me perguntaram o que entendo por ruptura. Na outra vez recebi um enorme tiroteio me classificando até de terrorista, não importando a argumentação usada no texto.
Ruptura significa o uso de algum instrumento de força tanto por parte do governo, quanto por parte da sociedade. Temos um quadro muito complexo neste momento rondando o Brasil. Parte vem da pandemia. Parte vem do uso político da pandemia. Parte vem da ruptura econômica e do mercado vinda junto com a pandemia. Temos partidos de oposição, temos o Supremo Tribunal Federal agindo como partido político e governando de fato o país, partindo de propósitos de projeto de poder. Temos a mídia em bloco direcionada contra o governo. Temos o Congresso Nacional paralítico fazendo de conta que está compreendendo o jogo e tem algum protagonismo. Que, de fato, não tem.
A mídia mais as redes sociais e o corporativismo dos poderes do Estado faziam a população crer que o presidente da República estava acabado. De repente, no simbólico Dia do Trabalho, as manifestações vieram às ruas fora de uma possível organização tão eficiente que juntasse tanta gente. Os propósitos das manifestações repetiram a lição das outras vezes desde junho de 2013. Combate à corrupção, combate ao STF, combate à possibilidade de uma candidatura Lula em 2022. Vamos lembrar: em 2013, foram os estudantes e colocaram o governo Dilma de joelhos. Depois foi com Temer. Agora repetem a mesma cantiga. Desta vez foram basicamente três as posições: combate à corrupção, ao nefasto papel que o STF vem exercendo e apoio explícito ao presidente Jair Bolsonaro.
No cenário temos a pandemia com as suas mortes e o discurso político anti-governo que ficou tão grande quanto a doença. Desdobrando veio a CPI da Pandemia, com objetivo claramente político de obter o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O povo na rua antecipou à CPI que se ela for nessa direção terá novas manifestações de resultado imprevisível. De outro lado, o STF está a um passo de comprometer o juiz Sergio Moro. Outra chance de irritação coletiva. Moro é um símbolo no combate à imensa corrupção nacional.
Numa última hipótese não se pode deixar de admitir a possibilidade de uma cartada forte do governo. Se for quebrada a ordem institucional, aí nada mais segura os confrontos entre pessoas, confrontos na política, confrontos na economia, confronto nas instituições públicas. Preocupa muito a imagem do Brasil no mundo. Especialmente num mundo completamente interligado, dentro do qual somos interlocutores comerciais na exportação, nas relações diplomáticas e na troca de interesses.
Encerro este artigo afirmando que as manifestações de sábado trouxeram uma agenda completamente cheia de recados. Leia-os quem souber ler...
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.
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