• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

A China gafanhoto e nós caipiras

Nas últimas semanas grupos de empresários chineses tem vindo a Mato Grosso prospectar investimentos. Na década passada eram os norteamericanos em busca de terras pra agricultura. Acreditavam que ao longo do tempo seria melhor migrarem pra cá porque nos EUA ficaria pouco competitivo. Essa onda passou. Agora são os chineses.

A mídia acaba de noticiar a chegada da maior processadora de alimentos na China, a Cofco, prospectando cenários em Mato Grosso. A China tem uma população de 1,4 milhão, crescendo e com aumento de renda. Logo, será maior a demanda por comida. Mato Grosso lhes interessa muito.

Para aqui essa narrativa pra voltar seis anos no tempo. Viajei para o Rio de Janeiro acompanhando o governador Silval Barbosa em 2011. Na viagem conversamos sobre a China. A então presidente Dilma Rousseff acabara de visitar a China e o jornal Valor Econômico publicou uma revista sobre o país. Li atentamente o perfil da China que emergia com grande força desde o começo do ano 2000. O governador me fez algumas perguntas sobre a China, os seus interesses em negócios e a chance deles investirem em Mato Grosso, etc.

Conversamos bastante. Silval ficou muito interessado. Porém, lembro-me de ter-lhe dito que dois países no mundo são absolutamente predadores, como gafanhotos. Por onde passam nada mais cresce: China e Inglaterra. Mato Grosso não poderá ser entregue aos interesses chineses sem uma enorme proteção legal, política e estratégica que hoje não existe. Sugeri-lhe que organizasse em Brasília encontros na Agência Brasileira de Inteligência-ABIN, que tem estudos estratégicos nacionais. Com o Itamaraty, que tem registros dos cenários comerciais no mundo. E com o IPEA ou com a Fundação Getúlio Vargas pra conhecer pontos de conexão econômica entre um estado produtor de alimentos como Mato Grosso e a relação futura China.

O governador aparentemente se interessou. Conversamos bastante durante a viagem de quase 3 horas. Determinou-me que conversasse com o seu chefe da Casa Civil, José Lacerda, pra organizar o tema. Tive duas rápidas conversas com ele. Em ambas ele usou o conhecido artifício de desconversar, com a clássica desculpa: “vamos avaliar”. Morreu ali o assunto.

Hoje, dois governos depois, existe apenas entusiasmo sobre o tema. Fala-se em investimentos chineses, mas absolutamente ninguém, conhece mais do que uma vírgula sobre o assunto. Pior. Os chineses virão como gafanhotos e vão tomar conta. Quem tem mais de 1 bilhão e meio de bocas pra comer, não vem pra brincar e nem terá piedade de pobres caipiras que não se prepararam pra recebê-los na sua sede de dominação pra resolver suas urgências de segurança alimentar.

 

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

onofreribeiro@onofreribeiro.com.br   www.onofreribeiro.com.br



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