Reza a lenda que o governador de Mato Grosso Pedro Pedrossian, eleito em 1965 teve um problema político ao desembarcar em Cuiabá, logo após a eleição. Ele era do Sul de Mato Grosso e não teve muito apoio na região Norte, principalmente em Cuiabá.
No pé da escada do avião pela nata da política cuiabana, Foi apresentado aos secretários da sua gestão já escolhidos prevuiamente pelos políticos cuiabanos. Foi-lhe dito que poderia escolher o seu chefe do gabinete. Pedrossian não disse nada. Mas preparou uma grande vingança. Criou a Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso, a poderosa Codemat. Através dela ele governaria com todos os poderes e deixava os secretários com seus carros pretos oficiais e gabinetes, meio sem função.
A Codemat tinha todos os poderes que permitia ao governador ter a liberdade de ação que quisesse. E usou. Mas para isso precisaria de técnicos qualificados que na época eram muito escassos no Estado. Iniciou um grande recrutamento em universidades de São Paulo, de Minas, de Goiás, do Sul e do Nordeste.
Nesta época o esforço das universidades públicas brasileiras era a formação de técnicos nacionalistas. O país estava em processo de desenvolvimento iniciado no governo JK (1956-1961). Precisava de técnicos em grande número. Grande número de técnicos vieram de outros estados para Mato Grosso. Cito um, que foi justamente quem me sugeriu o tema deste artigo: Deolindo Benedito Pereira, que veio jovem de São Paulo. Aqueles técnicos vieram e ficaram por aqui. Hoje aposentados ou já partiram, mas retratam uma época do início da modernização do velho Mato Grosso.
Pra se ter uma ideia, a Codemat iniciou grandes projetos de colonização como na região da Grande-Cáceres. Tinha mais tratores do que o departamento de estradas. Mais escolas do que a secretaria de Educação. Os melhores técnicos estavam nos seus quadros. Nos governos seguintes da Codemat foi um celeiro de grandes políticos. O ex-governador Júlio Campos veio do seu quadro. Benedito Canelas, senador, também. Bento Porto, secretário de Planejamento e deputado federal. Outros tantos foram deputados estaduais ou prefeitos. Criou uma geração de elite do serviço públicos nos anos seguintes.
Extinta em 1997 na reforma administrativa do governador Dante de Oliveira, já estava esvaziada. Mas marcou profundamente a história do Mato Grosso recente. A própria Universidade Federal de Mato Grosso, que surgiu em 1970, teve em seus quadros iniciais muitos professores vindos de técnicos da Codemat. Hoje é só História.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.
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