Paulo Lemos
Justiça. Palavra que a gente ouve o tempo inteiro, mas sente quase nunca, né!?
Gritam por ela nas ruas, cobram nos tribunais, repetem nos jornais como se fosse fácil, em contraste com a obra "A Luta pelo Direito".
Mas aí, joga na roda: “O que é justiça mesmo?” — silêncio constrangedor, resposta que foge, certeza que evapora.
Justiça, no fim das contas, não é só um sistema. É uma sede que desidrata pela falta dela.
Sério, justiça é aquela sede ancestral. Sede de respeito, de conserto, de dignidade. Sede inscrita no Sermão da Montanha, entre inúmeros outros lugares.
É aquela experiência incômoda no peito quando alguém é humilhado e ninguém move um dedo.
Quando o poderoso pisa e sai rindo, e o ferrado mal consegue levantar. Quando a injustiça se maquia de lei, a justiça parece esperança que sempre chega atrasada.
Na história, já pretendi definir justiça de tudo quanto é jeito. Platão dizia que era a tal da harmonia da alma e da cidade.
Aristóteles vinha com o papo de dar a cada um o que é seu. Mas o povo mesmo — esse que acorda com o sol e dorme quebrado — sabe que a justiça, na real, é só ser tratada como gente. Não seja esquecido, não seja descartado feito papel amassado.
O Direito agarra tentar esse negócio, mas vive tropeçando. O que tá na lei nem sempre bate com o que é justo de verdade. Moralidade e legalidade não são sinônimas, infelizmente.
Tem muita gente por aí se escondendo atrás de artigos só para manter a desigualdade rodando.
Daí confunde tudo: acham que justiça é castigo, vingança, teatro pra plateia.
Mas justiça mesmo, de verdade, tem algo de silencioso e revolucionário. Ela acontece quando uma criança preta brinca na rua sem medo de virar suspeita.
Quando um trabalhador pode adoecer sem ser chutado fora. Quando uma mulher existe sem precisar pedir desculpas. Quando o ser humano vale mais do que qualquer propriedade.
Não é papo de sonhador bobo, não. É compromisso duro com dignidade.
Justiça é quase o nome sofisticado do amor ao outro. É empatia vestida de terno. É o desejo de não deixar a dor alheia passar batida, nem a existência de bala perdida na periferia.
Hoje, mais do que nunca, a gente precisa resgatar esse sentido real da justiça. Não vingança disfarçada, nem papelada de tribunal.
Justiça como ato vivo, de peças e esperança. É quando a vida pesa mais que o lucro. Quando o erro é enfrentado com consciência, não com humilhação. Quando o frágil não é duradouro.
Talvez ninguém saiba explicar direitinho o que é justiça. Mas, lá no fundo, todo mundo sente quando ela faz falta.
Porque justiça, mesmo invisível, tem cheiro, tem rosto, tem nome. E quando ela não aparece, o mundo dói — e nem é pouco.
Paulo Lemos é advogado especialista em Direito Público-administrativo e Eleitoral, Criminalista e Constitucionalista, docente universitário de Filosofia-geral, Filosofia do Direito e Teoria Geral do Estado.
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