Gonçalo Antunes de Barros Neto
As verdades percebidas no mundo não são os acontecimentos, mas as relações entre os observadores e eles. A complexidade humana exige que se dê crédito a isso.
O que para Newton seria absoluto, no caso, o tempo, Einstein provou exatamente o contrário, que o tempo é relativo, dependendo da posição dos observadores. É a teoria da relatividade, que, transposta para a ciência social, nos oferece resultados precisos quanto às interpretações dos fenômenos.
Sem pretender viajar a velocidade da luz, como fez a imaginação do grande físico da teoria da relatividade, o mundo não é percebido da mesma maneira pelos observadores (como pretendeu Newton – tempo e espaço como estrutura absoluta).
Trazida para o campo do Direito, é ainda mais grave e inquietante o fato de que se pretende fazer justiça com a interpretação dos fatos e provas pelos diversos juízes. E quando isso alcança a unanimidade em qualquer julgamento, faz lembrar Nelson Rodrigues (!).
Também não podem ideologizar os julgamentos ao alvedrio dos interesses de cada observador.
Todos têm pluralidades de referenciais teóricos que se apropriam dos fenômenos observáveis conforme a subsunção dialética que fazem entre teoria e prática. Disso não escapam. Ainda que conscientemente não percebam, optam pelo caminho mais simpático aos próprios valores.
Há aqueles que verdadeiramente acreditam na própria imparcialidade diante dos fatos, mas ingenuamente. Somente um reduzido número de privilegiados o conseguem. E estes, necessariamente, treinam para isso e estão lotados nos diversos campos científicos. São acadêmicos em essência.
Existem fenômenos que afetam e não podem ser observados, são os chamados ‘interfenômenos’ (utilizando aqui o termo criado por Reichenbach para eventos subatômicos). Eles são perigosos, pois, indicam caminhos que nem sempre são conscientemente conhecidos pelos peregrinos.
Reproduzir mentalmente várias vezes um fato e suas nuances não o eleva à categoria de universalidade para que dele se extraia posicionamentos teóricos. Exige-se treino, experiência e de um ser bem acima da média intelectual para isso.
É preciso ter cuidado com o que vem aparecendo na tela de seu computador ou mesmo nos livros e jornais. Também nos processos judiciais. Não saia ‘arrotando’ conhecimento e nem se julgue imparcial e preparado para decidir caminhos. Prepare-se e sinta-se encorajado para a reflexão constante, busque ajuda na dialética e dela retire ânimo para que possa prosseguir na etapa seguinte.
O interesse que te move neste mundo não deve ser só a representação da existência de um objeto (Kant) ou mesmo a interface entre teoria e prática (Habermas).
Cada pensador teve seu tempo próprio e, conforme a relatividade das coisas, nada é absoluto e o absoluto é nada; nem zero o é, pois quanto mais observadores mais tanto de percepções, e zero é uma delas.
Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia e Direito, autor da página Bedelho. Filosófico no Face e Instagram, e escreve aos domingos em A Gazeta (email: antunesdebarros@hotmail.com).
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