Ao encontrar na fronteira entre o fim de um ano e o começo de outro, homens e mulheres são convidados a contemplar a efemeridade do tempo e a transição sutil entre o crepúsculo do que foi e a aurora do que será. Neste instante fugaz, mergulha-se em reflexões poéticas e filosóficas, explorando as nuances do encerramento de ciclos e a promessa latente de novos horizontes.
O crepúsculo, com seus matizes de cores que dançam entre a luz e a escuridão, é metáfora adequada para o fim de um ano. É o momento em que os dias encurtam, as sombras se prolongam, e a natureza parece recuar para um breve repouso. Assim, também a vida de todos, com suas realizações e desafios, mergulha no crepúsculo do ano que se despede.
A filosofia budista da impermanência ecoa nessas reflexões. O ano que se esvai, como todas as coisas, é impermanente. Na fluidez do tempo, aprende-se que nada permanece inalterado e cada momento é uma dança efêmera. Aceitar a transitoriedade é abraçar a beleza fugaz de cada experiência, reconhecendo que o crepúsculo é parte intrínseca do espetáculo da vida.
Entre o crepúsculo e a aurora há um silêncio mágico. Um momento em que o passado se dissolve e o futuro ainda não tomou forma. Na quietude desse intervalo, encontramos espaço para a contemplação. A filosofia estoica ensina sobre a importância desse silêncio interior, um refúgio para encontrar serenidade diante do incontrolável curso dos eventos.
Na aurora de um novo ano, confronta-se com a promessa de renovação. A luz suave que se insinua no horizonte é convite para desbravar terras desconhecidas. Aqui, a filosofia existencialista também convida a encarar a responsabilidade de criar nosso próprio significado. Cada novo ano é uma página em branco, aguardando as palavras e escolhas de cada qual.
A filosofia de Henri Bergson, que considera o tempo como uma experiência criativa, ressoa nesse contexto. Cada ano, cada instante, é uma obra de arte em constante evolução. As pessoas são os artistas que moldam o tempo com as ações, esperanças e sonhos. No amálgama do passado e do futuro, encontra-se o presente como uma obra-prima em constante elaboração.
Na poesia, há sempre um eco sensível dessas reflexões. Cada ano é um poema, com seus versos de alegrias e tristezas, suas estrofes de conquistas e desafios. Como poeta da própria vida, o poder de escrever a narrativa que deseja ler. A cada virada de ano, a obrigação de plasmar na página branca do tempo.
Assim, entre o crepúsculo e a aurora, entre o que foi e o que será, emergem as lições poéticas e filosóficas do limiar do ano. Todos são navegantes temporais, navegando pelas águas incertas do tempo. Que se abrace a transitoriedade, encontrar serenidade no silêncio entre os anos e, quão artistas da vida, pintar os dias com as cores vibrantes da renovação.
Que o próximo ano seja uma obra-prima em constante construção, onde cada momento é uma oportunidade de reinventar a história da existência humana, e, aqueles que se encontram em lugar de poder e mando, se conscientizem da necessidade da correção e retidão.
Enfim, que a dignidade humana não seja somente um refrão a ecoar pelos ares do anonimato ou do aformoseamento das folhas não preenchidas, mas de uma condição sem a qual a vida é impossível.
É por aí...
Gonçalo Antunes de Barros Neto tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito, e escreve em A Gazeta.
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