A discussão sobre os limites entre razão e loucura talvez tenha encontrado seu ápice literário na célebre obra ‘O Alienista’, de Machado de Assis. De lá para cá, muito foi repetido e transformado das mais diversas formas. Quando a questão e levada para as artes visuais, Arthur Bispo do Rosário sempre é uma referência, com diversas interpretações.
O documentário ‘A Loucura Entre Nós’, dirigido por Fernanda Vareille, consegue tratar esses dois aspectos (fronteiras entre razão/loucura; e entre a arte daqueles considerados normais/e dos chamados loucos) com refinamento e sem deixar de mostrar a onipresença da dor e do sofrimento em cada indivíduo nessa caminhada.
Filmado durante três anos no Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, em Salvador, BA, e baseado livremente no livro homônimo escrito pelo médico psiquiatra Marcelo Veras, o documentário também mostra o trabalho da ONG Criamundo, com atividades que eram ali dentro realizadas.
O resultado cativa. Um dos motivos é Leonor. Sua produção plástica merece um olhar atento. Ela diz sofrer de transtorno bipolar e é mostrada tanto em depressivos momentos de densa reflexão sobre a existência como de perturbadora euforia. A triste informação de que cometeu suicídio, nesse panorama, infelizmente não surpreende, e ganha ainda mais significado quando aliada à imortal força das pinturas e desenhos que produziu.
Oscar D'Ambrosio, mestre em Artes Visuais, doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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