O Brasil parece preso em um ciclo interminável de adulação de autocratas e ditadores. Não importa se pelo caminho da direita ou da esquerda, o resultado é sempre o mesmo, ou seja, de amizade fraterna com líderes de caráter duvidoso que possuem na essência de seu regime o desprezo pela democracia. O brasileiro, levado por uma mistura bizarra de idolatria, autoengano e pitadas de polarização, acaba comprando os argumentos frágeis e indecentes que buscam justificar o injustificável.
O capítulo mais recente desse famoso ciclo ocorre com a visita de Nicolás Maduro ao Brasil. Recebido com pompa por Lula, que defendeu a entrada da Venezuela nos Brics, chamou o líder da oposição local de impostor e disse que Maduro é vítima de uma narrativa que visa atingir seu governo. Vamos aos fatos. São mais de 7 milhões de expatriados, 82% da população vivendo em situação de pobreza, inflação acima de 300%, mais de 240 pesos políticos, assassinatos e detenções arbitrárias de jornalistas, judiciário dependente do governo, além de torturas, mortes e perseguições de adversários políticos. O país vive uma crise socioeconômica, política, humanitária e migratória. Nenhuma narrativa barra a triste realidade dos venezuelanos.
Como a mais importante democracia da América Latina, o Brasil tem a obrigação moral de não compactuar com líderes e regimes que ferem os direitos humanos de forma brutal e arbitrária, como vemos na Venezuela, assim como na Nicarágua. Como disse o presidente do Chile, Gabriel Boric, não pode existir padrão duplo na condenação daqueles que atentam contra a democracia, as liberdades e os direitos humanos. Violações devem ser condenadas, não importa se cometidas pela direita ou pela esquerda.
Infelizmente, o Brasil parece ter optado pelo caminho oposto. Bolsonaro condenou Lula pela aproximação com a Venezuela, porém esqueceu de usar a mesma régua ao se aproximar da Rússia, de Putin, e silenciar diante da violência produzida pelo Kremlin na Ucrânia. Bolsonaro aproximou-se do príncipe saudita Mohammed bin Salman, além das monarquias do Catar e Bahrein e do líder húngaro Victor Orbán, que mesmo fazendo parte da União Europeia, não ostenta credenciais muito democráticas.
Os líderes brasileiros deveriam se alinhar a valores morais universais, consagrados em nossa Constituição e outros instrumentos legais internacionais. Uma ditadura não é boa quando o ditador é amigo. Uma ditadura é sempre uma aberração que precisa ser denunciada. Um país democrático jamais pode silenciar diante da violência, sob pena de se tornar cúmplice de seus crimes.
Tanto o governo anterior, quanto o atual, erram profundamente nesse aspecto e não será o alinhamento ideológico com um desses que deve aprisionar nossa opinião. Não pode existir compromisso com o erro guiado pela idolatria política. A opção por um governo que fosse norteado por valores reais ao invés de conveniências temporais deveria ser o caminho diante do tamanho e importância do Brasil no cenário internacional. Ao fazer a opção pela omissão, nos tornamos submissos aos excessos, semeando um desprezo pela democracia que pode cobrar um preço muito alto em nossa própria nação.
Márcio Coimbra é Presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica e Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal.
Sobre a Faculdade Presbiteriana Mackenzie
A Faculdade Presbiteriana Mackenzie é uma instituição de ensino confessional presbiteriana, filantrópica e de perfil comunitário, que se dedica às ciências divinas, humanas e de saúde. A instituição é comprometida com a formação de profissionais competentes e com a produção, disseminação e aplicação do conhecimento, inserida na sociedade para atender suas necessidades e anseios, e de acordo com princípios cristãos.
O Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) é a entidade mantenedora e responsável pela gestão administrativa da Universidade Presbiteriana Mackenzie nos campi São Paulo, Alphaville e Campinas, das Faculdades Presbiterianas Mackenzie em três cidades do País: Brasília (DF), Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ), bem como das unidades dos Colégios Presbiterianos Mackenzie de educação básica em São Paulo, Tamboré (em Barueri - SP), Brasília (DF) e Palmas (TO). Além do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie Paraná (Curitiba), que presta mais de 90% de seu atendimento a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e integra o campo de estágios da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR).
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