Em toda a história, a mulher nunca esteve tão sobrecarregada quanto nos dias atuais. São tantas tarefas que se acumulam, entre casa, trabalho, família, estudo, filhos e os cuidados com eles que não há outra forma de 'ser e estar' na realidade da mulher moderna. O jeito foi vestir a fantasia de "mulher-maravilha" e sair para a luta. Mas assumir o lugar de heroínas está nos adoecendo.
O acúmulo de tarefas nos faz esquecer que o corpo é uma inteligência viva e nos dá sinais de que algo não vai bem a partir das dores de cabeça, ombros, costas e/ou estômago. Ao invés de investigar a origem das nossas 'dores', preferimos calar o corpo com analgésicos, anti-inflamatórios, ansiolíticos, antidepressivos.
Afinal, não há tempo para parar e refletir, muito menos para se sentir, observar e acolher o recado que o corpo quer passar. Porém quando nos negamos a ouvir e negligenciamos o que o "corpo fala", nosso "eu interior ou o sagrado feminino" costuma dar um jeito de comunicar sua sobrecarga física, mental, emocional e espiritual em forma de adoecimento físico relativamente grave.
Sempre oriento as minhas pacientes sobre adotarem uma postura questionadora: Será que eu realmente preciso dar conta de tudo? Estou realmente feliz nessa estrutura de vida, ou continuo com uma sensação de vazio interno? Preciso mesmo seguir a cartilha de "boa filha, esposa, profissional e mãe perfeita"? Onde realmente dói o corpo ou a alma?
Compreenda que todos esses manuais sociais são apenas teorização de uma sociedade e não a realidade. Trabalhar a autoestima e amor-próprio com as mulheres passa por desconstruir esse padrão de perfeição que elas passam a vida toda querendo atingir, como se não fossem suficientemente boas ou merecedoras.
Se para ser quem somos e ser felizes tenhamos que pagar um preço, que sejamos então chamadas de loucas, antissociais, egoístas e "fora da realidade". Mas que possamos construir uma vida mais leve, com harmonia, beleza e empatia, sobretudo conosco e com outras mulheres. Troque "competição" por compaixão e cooperação.
Observa à sua volta, guerrear umas com as outras não leva a nada, porque o irreal vem liderando a mente feminina de forma coletiva, gerando falação infinita, medos, insegurança, miséria, escassez, doenças, obsessões, manias, ódio, raiva, ciúmes, inveja, infelicidade, ingratidão, ideias de vingança, e por aí vai.
Quantas de nós vive para ter o carro, o corpo, a família e a carreira ideais, mas não tem "tempo" para viver o real? Travamos uma eterna luta conosco e com o mundo, onde quem é mais inteligente fica cada vez mais triste, porque acha que só existe isso. Já os ignorantes se alimentam desse turbilhão, a vida deles é "ódio, ódio, ódio!"
Vamos sair do fundo desse poço que é o manual da mulher moderna? Que tal arrancar e queimar as roupas da mulher-maravilha, aquela que fizeram você acreditar que era o arquétipo ideal da independência feminina? O que não contaram é que esse ideal de mulher é bom para toda a sociedade, mas é cruel demais com você mesma.
Aprenda a dizer não aos abusos que muitas vezes podem ser comuns no seu ciclo familiar. Esteja disposta a ligar o botão do "foda-se" sempre que for necessário e ficar firme diante dos julgamentos que virão. Mentalmente diga "obrigada pela sua opinião, mas esta é a minha vida e eu faço minhas as escolhas". Ser bem resolvida é também saber colocar limites e mantê-los. Não duvide de si mesma.
Se você ficar exausta ou "morta" (como costumamos dizer) que tipo de mãe vai ser? Que tipo de versão sua as pessoas terão? Muito provavelmente vai faltar amor, carinho, doçura, sorrisos, disposição para brincar, tomar banho de chuva ou contar "estorinha" aos seus filhos antes de dormir.
Viver o real é ter tempo e conexão com as pessoas, animais e com a natureza. É poder se sentar à sombra de uma árvore para ouvir a sinfonia dos passarinhos. Sentir o perfume de uma flor. Alegrar-se com o céu estrelado e ter sua fé renovada ao ver um arco-íris no céu. Aos poucos, naturalmente, você vai sentir o vazio interno sendo preenchido por emoções gratificantes.
Sei que "ter tempo" e "presença" é um convite desafiador. Vivemos uma verdadeira revolução em relação às nossas avós, bisavós e trisavós ao sair do âmbito doméstico e conquistar "o mundo". Mas cabe a nós uma nova revolução, de ser apenas quem somos e não "ter que" provar nada a ninguém. Permita-se ser mulher e mãe de forma mais leve. Libere-se de todo esse peso. Saia da caixa onde lhe colocaram!
Marilei Bahnert é Psicanalista, especialista em Neuropsicopedagogia Clínica e Coaching em Ciências Sociais, professora e facilitadora do método Louise Hay.
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