A Copa do Mundo lembra o começo da minha carreira – um pouco inusitado para a trajetória de um executivo, confesso. Aos 15 anos, iniciei como técnico no infantil do Saint-Brice Football Club, na França.
Acompanhei crianças de 6 anos durante meia década e a cada temporada subíamos de divisão. Quando os garotos chegaram aos 10 anos, disputamos o torneio regional, nosso maior objetivo. Quem na carreira não deseja crescer como esses meninos fizeram em campo?
Uma das chaves para isso é perceber que futebol e mundo corporativo têm muito em comum. Se no esporte passamos a bola de pé em pé para balançar as redes, nas empresas, quando falamos em movimentar as redes, nos referimos a fortalecer as pessoas. Torná-las preparadas para lidar com o diverso e o adverso. O esperado e o inesperado.
Times fortes estão preparados para se adaptar a diferentes situações, sistemas de jogo, momentos distintos da organização, cenários. Um dos principais pontos em comum entre uma estrela das quatro linhas do gramado e um craque das quatro paredes do escritório (ou do home-office) é a sua capacidade de adaptação.
Saber se adaptar é uma soft skill curiosa. No caso do médico que opera o joelho de um atleta, a experiência conta 100% para tomar uma decisão importante. Por outro lado, um profissional que quer se adaptar a uma realidade diferente às vezes precisa esquecer boa parte de sua vivência anterior. Por mais que tenha se adaptado em outras oportunidades, cada situação exige percorrer um caminho distinto. Adaptar-se é sempre novo.
O Brasil convive com um cenário muito intenso. Uma nação de mudanças constantes no ambiente de negócios, busca por eficiência de processos, transformação digital acelerada em determinados setores, que a todo tempo exercitam a flexibilidade das empresas e seus times. O mais encantador é que, de modo geral, o profissional brasileiro tem uma visão muito positiva diante dos obstáculos. E a maneira original e ágil com que os atletas do futebol enfrentam as adversidades em campo indica o potencial que temos de inovação e adaptação nas empresas.
Na final da Copa de 1958 na Suécia, o Brasil saiu atrás do placar para marcar cinco gols e ser campeão pela primeira vez, contra os donos da casa. No mundo corporativo, seria algo como mudar a estratégia para reverter no fim do ano o mau desempenho nas vendas no primeiro trimestre. Em 1962, após a contusão que tirou o Rei Pelé da Copa, a seleção se reorganizou para receber o atacante Amarildo, fundamental a caminho do bi. Se compararmos o episódio à gestão de pessoas das corporações, seria semelhante a um time que se supera para atingir a meta, mesmo após a perda de um grande talento.
Em 1994, ano do Tetra, o baixinho Romário subia entre os altos zagueiros para se consagrar como um exímio cabeceador. Um profissional que trabalha sua vulnerabilidade para transformá-la em ponto forte. Em 1998, a partir da amarga derrota para os franceses, Ronaldinho Fenômeno se tornou um dos heróis do Penta, quatro anos depois. Fez como o colega que escuta feedbacks, repensa métodos e se capacita para galgar novas posições.
Enquanto a Copa do Mundo é realizada de quatro em quatro anos, todos os dias lembremos as lições do futebol. Seja o time da sua empresa formado por 11 ou 50 pessoas, seja qual for seu estilo ou objetivo nos gramados, crescer profissionalmente é saber que a cada lance o cenário pode mudar.
E, se você estiver preparado para se adaptar, tudo bem. Bola para frente.
*Thomas Gautier tem duas décadas de experiência em grupos internacionais e assumiu como CEO do Freto em 2021. O executivo iniciou sua carreira na França e tornou-se CFO da Repom, no Brasil, em 2013. Em 2017, virou diretor-geral da Repom e, em 2018, passou a ser Head de Logística do Grupo Edenred, quando, em sua gestão, o Freto nasceu. Desde o começo do ano, o Freto assumiu a gestão do Clube da Estrada, maior plataforma do país de apoio a Caminhoneiros.
Ainda não há comentários.