• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Brasil profundo

            A partir de um breve comentário do jornalista William Waack na CNN, entrei na reflexão que projeto neste artigo. O jornalista disse que a eleição presidencial no primeiro mostrou que emergiu um Brasil profundo e conservador.

            Mas por conservador não se entenda a qualidade tão comum à direita, com suas identidades econômicas ou ideológicas. O Brasil conservador que nasceu na eleição de 2018, parte adormeceu durante o governo Jair Bolsonaro. Mas não morreu. Apenas ficou silencioso e agora emerge com uma enorme força independente. Esse Brasil profundo está consolidado no interior do Brasil. Principalmente nos estados do Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste.

            Gostaria de fazer uma comparação. Na eleição de 2016, nos EUA, o presidente Donald Trump venceu a eleição com os votos do interior do país. Os chamados “red neck” ou pescoços vermelhos, são os caipiras norte-americanos que nunca foram importantes nas eleições até então. Naquele ano eles foram a surpresa para os institutos de pesquisa. Erraram feio ao não considerar a nova força vinda do interior do país profundo.

            No primeiro turno no Brasil o fenômeno foi parecido. Os institutos de pesquisa erraram feio. Por mais desculpas que dessem, o fato é que erraram mesmo! Eles mantiveram a mesma noção de que o Brasil que pensa e influi é o Brasil metropolitano. Em especial o Brasil do litoral.    

            Aqui cabe um registro. Na eleição de 2018 o presidente Jair Bolsonaro foi eleito por um Brasil profundo que pela primeira vez os institutos de pesquisas não detectaram. Como não detectaram em 2022. Esse Brasil profundo é interiorano e conservador.

            Por conservador entenda-se uma população fora das metrópoles urbanas. É, por exemplo, o caso de Mato Grosso. É gente que trabalha e guarda valores tradicionais como o trabalho, a família, a pátrias e a religião. Esses valores estão muito diluídos nas capitais e nas grandes cidades do restante do Brasil.

            Dessa forma, se o eleitorado, além de estar dividido entre as duas correntes dominantes no segundo turno, está dividido também nos pontos de vista e de comportamento coletivo. No Brasil metropolitano a comunicação dominante é a comunicação de massa e gera um pensamento coletivo mais padrão. Já no Brasil profundo a comunicação é mais desigual. Nela valores sociais da família, da religião, do civismo e da cidadania são mais presentes. Também o conceito do trabalho é mais consolidado.

            Vamos ver os votos no segundo turno pra onde vão pender. Mas de qualquer forma no futuro e nas próximas eleições o Brasil profundo não pode ser tratado como foram tratados nos EUA os “red neck” em 2016. Isso, sem falar nas novas gerações que chegam às urnas completamente fora de qualquer figurino conhecido pela política, pelos políticos. Pelos institutos de pesquisa e pelos governantes. Este será tema de outro artigo.

 

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.

onofreribeiro@onofreribeiro.com.br     www.onofreribeiro.com.br



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