O fim do ano letivo não é apenas um marco no calendário escolar. Ele é, antes de tudo, um momento de leitura coletiva do caminho percorrido. Cada apresentação, cada mostra pedagógica, cada gesto de encerramento carrega algo que vai além da festa: revela vínculos, amadurecimento e pertencimento.
Na escola, as celebrações de final de ano cumprem uma função que nem sempre é nomeada, mas que é central no processo educativo. Elas tornam visível o que foi construído ao longo dos meses. Não apenas em termos de conteúdo, mas de convivência, autonomia, responsabilidade e identidade. Quando uma criança sobe ao palco, expõe um trabalho ou compartilha uma conquista, ela não está apenas mostrando o que aprendeu. Está reconhecendo a si mesma como parte de uma trajetória.
Esse momento só faz sentido porque é vivido em conjunto. A presença das famílias não é decorativa, nem protocolar. Ela é pedagógica. Ao ocupar o mesmo espaço da escola, pais e responsáveis passam a enxergar a aprendizagem como processo e a criança, por sua vez, entende que sua formação não acontece em compartimentos isolados, mas na convergência entre casa e escola.
Celebrar, nesse contexto, é fortalecer um dos pilares mais importantes da educação: a corresponsabilidade. Quando a escola convida as famílias a celebrar, ela também as convida a participar, compreender e sustentar o projeto educativo. Não se trata apenas de assistir, mas de pertencer. É nesse vínculo que a aprendizagem ganha continuidade e sentido.
Mas o encerramento de um ciclo nunca é apenas sobre o que termina. Ele também aponta para o que começa. Ao longo da minha trajetória como educadora e empresária, aprendi que o próximo ano não se constrói em janeiro. Ele começa agora, na forma como lemos o que foi vivido, no diálogo que estabelecemos com as famílias e na clareza dos valores que escolhemos sustentar.
Os desafios que 2026 apresenta exigirão ainda mais proximidade, escuta e intencionalidade. A escola precisará seguir como espaço de acolhimento, mas também de formação crítica, autonomia e responsabilidade. E isso só será possível se o vínculo com as famílias continuar sendo tratado como parte estrutural do processo educativo.
Celebrar o fim do ano, portanto, é também um ato de planejamento. É olhar para trás com responsabilidade e para frente com propósito. Porque educar nunca foi apenas preparar para o próximo ano letivo, mas para a vida que continua se formando, dia após dia, na relação entre escola, família e criança.
*Márcia Amorim Pedr’Angelo é psicopedagoga, fundadora das escolas Toque de Mãe e Unicus,e coordenadora da Unesco para a Educação em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

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