• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Pobres vírgulas...

Muito capaz que este artigo não faça o menor sucesso. Mal e mal seja lido. Quem sabe, até com algum desprezo. Afinal, ele lida com uma sujeitinha tão insignificante: a vírgula. Quem dá bola pra ela?

Leio muito todos os dias. Tenho uma enorme pena da pobre vírgula. Na maioria das vezes ela é ignorada. Ou, quando usada, vai de qualquer jeito. Estranho, porque fui educado sob enorme vigilância em relação ao uso da vírgula. No aprendizado de técnicas de redação nunca me esqueço das normas básicas num texto: “isto é”, vem sempre entre vírgulas, porque é um explicativo.  Recebi duras repreensões por conta de esquecimentos assim.

Mas as redes sociais entraram pra rachar no esforço de assassinar a pobre vírgula. Tão insignificante! Tipo assim: “vamos lá, então...”. “E aí, cara, como vai?”, “ficou bonita na foto, hein?”. Essas vírgulas são necessárias e obrigatórias. Outro coitado muito judiado nas redes sociais é o “hein”. Estão escrevendo-o como “em”. “Em” é proposição com outro uso e outro sentido. “E aí, em?”, errado. O certo é “E aí, hein?”.

O leitor deve estar pensando que enlouqueci em discutir aqui esses pequenos preciosismos que na prática nada significam. Sei que pouco representam na linguagem diária. Mas é bom saber que existe uma norma culta da língua portuguesa. E essa mesma língua não nasceu ontem, É fruto de uma longa evolução que começou lá no fim do Império Romano, há 1.500 anos, quando o português derivou do latim vulgar falado pelas massas romanas. Assim como outras nove línguas como o francês, o espanhol, o romeno, etc.

Sei também que as línguas evoluem. Mas a evolução atual trazida pelas diversas tecnologias está matando rapidamente os fundamentos da língua portuguesa, assim como das demais. Teremos logo uma linguagem baseada em sinais gráficos tipo os  simpáticos emojis das redes sociais. Os aqueles sinais que já fazem parte de todo um arsenal no facebook e no whatsapp. Pior, esses sinais representam sentimentos e emoções. Sinal de rápida morte de todas as línguas como hoje as conhecemos. Uma mãozinha fazendo sinal de “positivo”, batendo palma, dando adeus, sorrisos e carinhas revelando sentimentos não vão acabar mais. Vieram pra ficar e substituir uma linguagem milenar que temos em uso.

Num futuro mais à frente nada do que hoje usamos pra nos comunicar terá mais sentido. Sinais gráficos, sons padronizados e outras técnicas substituirão a expressão das emoções humanas.  Que dirá uma mísera vírgula, tão pequena e que serve apenas pra separar idéias escritas? E mais: quem garante que daqui a dez anos a voz ou a escrita ainda sejam linguagens?

Pobre vírgula, com os seus dias contados e o uso cada vez mais desconhecido!

 

Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso

onofreribeiro@onofreribeiro.com.br    www.onofreribeiro.com.br



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