Vejo, com extrema preocupação, movimento nos meios políticos do Estado no sentido de retirar recursos do novo Hospital Universitário Júlio Müller para destiná-los à conclusão das obras do novo Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá que assim se transformaria no que eles chamam de “Hospital e Pronto-Socorro Universitário Júlio Müller”.Seria, afinal, como diz o velho provérbio português: descobrir um santo para cobrir o outro.
A meu ver, trata-se de uma iniciativa oportunista que mostra evidente desvio de finalidade – e que sinaliza com resultados altamente duvidosos, para dizer o mínimo. A saúde, em Cuiabá ou em qualquer cidade de Mato Grosso ou do Brasil, precisa de mais unidades hospitalares funcionando, de oferecer mais vagas, colocar à disposição das pessoas novos leitos para suprir a sempre crescentedemanda.
Então, o que se espera de cada autoridade devidamente comprometida com a questão é um esforço coordenado para oferecer à população, sobretudo às pessoas mais humildes, um leque maior de possibilidades de atendimento, para assim minimizar as filas, a espera, e vencer o descaso com as vidas, com as dores humanas – coisa que, infelizmente, temos nos acostumado a ver, dia após dia, ano após ano, em nosso país.
A título de informação, lembramos que a UFMT já fez três aportes de recursos, nos anos de 2011, 2012 e 2013,totalizando R$ 60 milhões, para as obras do novo Hospital Universitário Júlio Müller (HUJM), localizado no km 16 da Rodovia Palmiro Paes de Barros, que liga a capital a Santo Antônio de Leverger.
O recurso, depositado na conta-convênio UFMT-Governo do Estado aberta para tal finalidade, está à espera de boa gestão para fazer a obra andar. E isto o Governo do Estado, nosso parceiro nesta empreitada, já sinalizou. O secretário de Estado de Cidades, Wilson Santos, garantiu que a licitação visando contratar uma nova empresa para tocar a obra deve ser efetivada em breve.
Lembro, por outro lado, que o complexo do novo HUJM foi concebido para ser não apenas um hospital universitário, mas para envolver também unidades acadêmicas, ou seja, as faculdades da área de saúde da UFMT.
E digo mais: a área de influência do novo Hospital Universitário Júlio Müller não ficará, de modo algum, restrita a seu endereço de implantação. Na verdade, uma grande área geográfica será positivamente impactada, e não apenas o entorno da Rodovia Cuiabá-Santo Antônio. Com a conclusão da obra, além da capital, toda a população do entorno metropolitano será beneficiada: Acorizal, Barão de Melgaço, Chapada dos Guimarães, Jangada, Nobres, Nossa Senhora do Livramento, Nova Brasilândia, Planalto da Serra, Poconé, Rosário Oeste, Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande. E não só com os serviços específicos que o complexo oferecerá, mas também com asfalto, energia, água, esgoto, transporte coletivo, escolas, equipamentos culturais, desenvolvimento cidadão, enfim.
No meu entendimento, é precisamente disto que precisamos e é isto que as populações de Cuiabá e de seu entorno, bem como de todo Mato Grosso, demandam. Precisamos, sim, de mais estruturas hospitalares, de escolas médicas, programas de residência médica, mais unidades de saúde da família, novas UPAs, alcance maior do Programa Mais Médicos, na parceria União-Estado-prefeituras.
Não ao abandono das obras do HUJM, não ao desperdício dos R$ 8 milhões já investidos no novo hospital universitário! Não podemos nem devemos aceitar aquilo que tem cara de mais ou menos, de meia-boca. Precisamos somar, não subtrair; precisamos multiplicar, não dividir. Precisamos, sim, de mais saúde. E menos, muito menos, de política e politicagem.
Fabrício Carvalho é Secretário de Articulação e Relações Institucionais da Universidade Federal de Mato Grosso e Maestro da Orquestra Sinfônica da Instituição.
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