Na vida, é preciso admitir nossa impotência diante de algumas situações, se rendendo, ao invés de lutar, para somente aí aceitar a realidade e ter humildade para pedir ajuda, serenidade perante as coisas que não podemos modificar, coragem perante as que podemos e sabedoria para diferenciar de forma prévia e prática.
Reconhecer que não temos total domínio sobre qualquer área da vida, seja por não sermos perfeitos, seja por fatos fortuitos e eventos de força maior.
Diante desses vazios existenciais, pontos de aparente mãos atadas, acabamos sendo naturalmente levados a acreditar em um Poder Superior a nós mesmos, suficientemente capaz de agir quando e onde não temos qualquer controle, pela experiência vivencial, bondoso e cuidadoso, todavia, o mais importante, da maneira que cada um conceba, sem fomentar controvérsias de ordem religiosa, imperando a diversidade, até mesmo o direito de não ter religião.
Portanto, por consequência, uma vez superior, bondoso e cuidadoso, nada melhor do que entregar nossas vidas e vontades a ele, ao revés de a forças destrutivas.
Entretanto, mesmo fazendo a entrega, é imprescindível que passemos por um processo rigoroso e honesto de autoconhecimento, identificando a exata natureza de nossos defeitos e qualidades, para sair do autoengano e jogar fora saco de pedras, principalmente sentimentos de culpa, acrescentando coisas mais leves, que elevem nossa autoestima, sem egocentrismo.
Partilhar com alguém de nossa inteira confiança e admiração, os achados do inventário acima, aliviará de vez a carga e dará a chance para ouvirmos ponto de vista diverso daqueles que nutrimos sobre nós mesmos.
Mas naquilo que restar incontroverso ser falhas de caráter, urge prontificar-se, fazer o movimento de dentro para fora de renúncia, para que possam ser removidas, inclusive rogando ao Deus da nossa compreensão, por sozinhos não conseguirmos.
Feito isso, teremos condições agora de fazer reparos não necessariamente mais conosco mesmo, e, sim, com terceiras pessoas que possamos ter prejudicado em nossa trajetória, direta ou indiretamente, assim como as duas modalidades de reparação, evitando a direta quando ela puder aumentar ou desencadear um problema, mantendo a indireta com a mudança de mentalidade e comportamento em ocorrências análogas.
Não basta termos realizado lá atrás um levantamento da nossa condição pessoal, da formação do nosso caráter. Ele tem de ser renovado diariamente, para podermos ir ajustando as coisas a princípios que nos oferecerão uma nova maneira de viver.
Também não é suficiente ter feito a entrega da vida e vontade, sem um relacionamento consciente com a Providência Divina, por meio de oração e meditação, em resumo, como busca de tomar ciência da vontade de Deus e clamar por força para consumar ela.
Por derradeiro, o amor primeiro e incondicional por todos nossos semelhantes, um amor prático, com ação.
Paulo Lemos é advogado, professor universitário e escritor.
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