Os atuais incêndios no Pantanal mato-grossense de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul expuseram muito negativamente uma região que sempre foi a matriz da identidade social, econômica e política nos dois estados. Região muito poderosa antes que a agricultura abrisse os cerrados em larga escala pra produzir grãos. Antes também que a pecuária começasse a expandir-se nos cerrados nas pastagens plantadas.
Só um registro. Em 1978 os três senadores, quatro deputados federais e oito dos deputados estaduais de Mato Grosso – que ainda não era dividido – eram pecuaristas no Pantanal. As fazendas estendiam-se de Aquidauana até Barão de Melgaço, Poconé, Cáceres, Nossa Senhora do Livramento e Santo Antonio de Leverger. Após a divisão em 1979 as fazendas continuaram como antes. Mas a força política do Pantanal ficou com Mato Grosso do Sul.
Isso foi muito relevante porque lá o Pantanal continuou sendo tratado como matriz econômica. Permite a atividade com regulações normais, ao contrário de Mato Grosso onde a região foi praticamente abafada por legislações suicidas. Em Mato Grosso acabou a força política. O Pantanal ficou exclusivamente nas mãos dos fazendeiros. Mas a gota d’água viria com a implantação da reserva natural particular do Sesc Pantanal com a visão de fechar o Pantanal à exploração econômica. Por detrás, a visão contratada de ONGs ideológicas e de técnicos da Universidade Federal de Mato Grosso com a leitura de esvaziar o Pantanal. Sem a força política os fazendeiros ficaram gradualmente encurralados por visões ambientalistas de fundo ideológico.
Em 2020 os incêndios criaram um ambiente insustentável para a região e para os pantaneiros. Por isso no dia 16 de setembro fazendeiros e uma série de entidades se reuniram em Poconé para iniciar um movimento de articulação política. Deram o nome de “Guardiães do Pantanal”. Assinaram a pauta de presença entidades representativas das atividades econômicas de todas as áreas de atividades e ainda o Sesc Pantanal. O objetivo é criar uma frente de representação do Pantanal onde circulem todas as discussões que hoje estão soltas e nas mãos de pessoas bem e nas mal intencionadas.
A associação já teve encontros políticos com o ministro do Meio Ambiente na semana passada e em se reunido frequentemente articulando posições políticas e econômicas pra tirar as discussões das páginas da mídia para o lado de quem realmente tem interesses no Pantanal. Será a primeira vez que o Sesc Pantanal, as ONGS e a UFMT e Unemat encontram contraponto pra discutir e debater.
Talvez o mais importante seja o que os “Guardiães do Pantanal” garantem: “ninguém é mais interessado na conservação do Pantanal do que quem vive e produz há mais de 300 anos”.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.
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