Para mim, a paralização do país foi exagerada e gerará forte impacto na economia.
Seria suficiente campanhas publicitárias de orientação e adoção de medidas sanitárias de prevenção, como lavar bem as mãos, usar álcool em gel, máscaras se necessário, não compartilhar utensílios de cozinha, ingerir muita água e suplemento vitamínico para imunidade, bem como procurar o SUS no caso de sintomas de gripe, isolando apenas os casos suspeitos.
Essa radicalização trará efeitos colaterais na alta dos preços dos itens de consumo essenciais, além de comprometer o orçamento doméstico, com o abalo sísmico do mercado, em detrimento dos trabalhadores formais e informais, não do baronato ou dos que têm seus subsídios garantidos pela vitaliciedade e/ou estabilidade funcional.
Digo isso, porque tem uma parte do Brasil que desconhece sua outra metade.
O isolamento por essas bandas, para grande parte da população, é sinônimo de aglomeração de amontoados humanos, dentro e fora das lages, sem máscara e álcool em gel, sem plano de saúde, com esgoto a céu aberto, corte de luz, água e fome, sem trabalho e renda!
É fácil dizer "fica em casa", quando não se vive essa realidade socioeconômica, quando não se tem empatia por quem não pode e não tem como ficar em casa, às vezes sequer tendo casa.
E para os sem-tetos nós dizemos para eles ficarem onde?
Não somos a Europa e/ou os EUA! Os protocolos de lá levam em consideração o aparato disponível, absolutamente distinto do nosso.
Os artistas da Globo, que estão dizendo para ficar em casa, vão dispensar seus motoristas, seguranças e empregadas domésticas, mantendo o salário de todos?
E os porteiros dos condomínios de luxo, ficarão em casa?
Continuando o debate do isolamento, para os mais pobres, que não têm capital acumulado ou estabilidade no serviço público:
Será revogada a PEC do Congelamento de Gastos Sociais, para liberar o orçamento e investir maciçamente em saúde e moradia, a PEC da Previdência, para ampliar a Seguridade Social e a Reforma Trabalhista, para promover segurança no emprego e estabilidade financeira para as famílias sobreviverem com suas necessidades essenciais?
Obras de saneamento básico será prioridade nas periferias?
O SUS vai distribuir álcool em gel e máscara para tod@s?
Será retirada a carga tributária sobre medicação?
O Bolsa-Família será ampliado?
O PROJOVEM, com distribuição de renda, vai voltar?
O programa Minha Casa, Minha Vida será encarado como elementar para os sem-tetos, neste momento de calamidade pública?
Haverá uma política pública para solucionar o problema do superindividamento perante o Sistema Financeiro?
Terá crédito facilitado, para comprar cesta básica, por exemplo, durante o toque de recolher?
As contas de luz e água serão suspensas, como na França?
Hospitais privados serão estatizados como na Espanha?
Os trabalhadores e servidores contratados não serão demitidos e terão garantidos estabilidade salarial, sem cortar pela metade ou qualquer diminuição remuneratória, e/ou receberão algum subsídio financeiro como na Europa e EUA, para ficar em casa?
Se as respostas forem positivas, concordarei com a maioria dos que podem ficar em casa, sem perda do mínimo existencial.
Caso contrário, ficarei do lado do povo, que pensa diferente, não por ignorância, mas por estado de necessidade, com todas medidas sanitárias precaucionais possíveis, que, todavia, não mate a Senzala de inanição.
Os moradores da Casa Grande não sabem o quê é isso, tampouco se solidarizam com essa brutal realidade social. Pensam apenas em si, em se preservar.
Não responderei a ataques pessoais, de quem confortavelmente tem casa para se abrigar, comida para se alimentar e internet para passar o tempo durante o toque de recolher imposto para muitos que não têm para aonde ir ou simplesmente cruzar os braços, embora quisessem desfrutar dessa possibilidade, caso pudessem, a sociedade e/ou o Estado oferecessem essa possibilidade para todos.
Antes que mais alguém diga que estou em defesa própria, o que seria legítimo, porém não se trata disso, não estou na faixa sócioeconômica daqueles desafortunados que estou defendendo.
Tenho condições de fazer resguardo durante a quarentena, sem faltar energia e comida aqui em casa.
Só acho uma tremenda hipocrisia ou ignorância não reconhecer ou enxergar que no Brasil muitos não ficarão isolados por estado de necessidade e ausência total do Estado em políticas públicas de contenção e compensação.
E vejo pouca gente fazendo esse debate, cobrando isso do Governo.
É fácil dizer "fica em casa" quando se tem casa, comida estocada e estabilidade financeira.
Vai dizer isso para a tia do pastel e o tio do cachorro-quente, bem como para os moradores de rua e das favelas.
Conversem com os trabalhadores mais simples, os desempregados, os favelados e os "moradores" em situação de rua e perguntem a opinião deles, ao invés de serem arrogantes e prepotentes em calar a voz dessas pessoas e colocar na invisibilidade suas necessidades.
Agora, se a Seguridade Social, as Empresas e as Organizações Sociais proverem o mínimo existencial aos mais pobres, serei o maior e mais empenhado defensor da quarentena extrema.
Paulo Lemos é advogado e não está preocupado com seus honorários.
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