A sustentabilidade ambiental entrou, definitivamente, na agenda mundial dos negócios, dos governos nacionais, subnacionais e dos consumidores.
Líderes políticos e formuladores de políticas públicas consideraram a sustentabilidade ambiental e social nos programas de desenvolvimento, sob risco de fracassarem na condução da melhoria do padrão de vida de suas nações e regiões. A cobrança de uma sólida agenda de programas sociais e ambientais sustentáveis ocupam espaço prioritário nas mentes dos cidadãos que votam e escolhem seus líderes periodicamente.
Quase com a mesma intensidade que exigem estabilidade econômica, fiscal e qualidade de vida dos seus governantes. Países desenvolvidos, maiores consumidores de bens e serviços mundiais, atualizaram suas legislações para exigir das empresas que operam em seus territórios a utilização das melhores práticas de governança corporativa, ambiental e social, a chamada agenda ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança transparente).
O Parlamento Europeu decidiu, recentemente, recomendar aos 27 membros da União Europeia, proibir importações de produtos agrícolas (soja, milho, madeiras, algodão, carnes, etc.) que sejam originados de áreas de desmatamento.
No mundo dos negócios, cada vez mais grandes grupos empresariais globais incorporam as melhores práticas da agenda ESG como premissa para produção e comercialização dos bens e serviços que entregam aos seus consumidores. Também incluem nas avaliações de resultados dos seus executivos, a implantação e cumprimento das mesmas práticas ESG. Os maiores bancos e fundos de investimentos mundiais exigem das empresas às quais emprestam ou investem as mesmas práticas.
Os consumidores também estão cada vez mais exigentes, dando preferência a produtos e serviços que respeitem a proteção ambiental e social em todas as suas fases da cadeia de produção. Praticam a rastreabilidade ambiental cotidianamente. Aceitam até mesmo pagar preços maiores em troca da certeza de que o alimento, a bebida, a bolsa de marca ou a roupa de luxo que compram não foram produzidos com práticas que desequilibrem o meio ambiente ou utilizem trabalho degradante ou infantil.
No mercado de capitais a exigência da sustentabilidade ambiental são ainda mais rigorosas. As grandes gestoras de recursos colocam em suas análises de alocação de ativos a necessidade de compromissos com as práticas de redução da emissão de gases que causem o efeito estufa.
Significativo sinal foi emitido pelo Fundo Soberano da Noruega, o maior do mundo, que tem sob sua gestão U$ 1,2 trilhão. Globalmente, o fundo norueguês investe em nove mil companhias em 70 países. Nesta terça feira (20), em comunicado ao mercado global, executivos do fundo anunciaram seu novo plano de ação. Em linha com o Acordo de Paris, vai exigir de todas as companhias nas quais vai investir, que implantem medidas apropriadas no curto prazo para mitigar o aquecimento global e reduzam exposição ao risco climático, como redução de emissões de metano e eliminação do desmatamento de suas cadeias de valor.
No longo prazo, exigirá compromisso de zerar a emissão líquida de carbono até 2050. O novo plano pretende acelerar a descarbonização e reduzir os riscos financeiros da transição ambiental. Para os estrategistas do fundo, o atraso na transição ambiental representa o maior risco financeiro para seus investimentos, pelas graves consequências para o clima e ameaça às condições de vida dos seres humanos.
A decisão terá impactos no Brasil. Administrado pelo Norges Bank, até 2021 o fundo da Noruega investiu U$ 6 bilhões em 174 empresas brasileiras. Entre essas, estão os maiores grupos empresariais nacionais, como Petrobras, Vale, Cosan, Marfrig Global Foods, Eletrobras e a administradora de shopping centers Aliansce Sonae. O fundo já retirou investimentos da Vale por causar “dano ambiental severo” com o rompimento de barragens e a consequente morte de dezenas de pessoas. Investimentos da Eletrobras foram suspensos “... por violação de direitos humanos” em algumas de suas usinas hidrelétricas.
Um dos maiores desafios do século, a mudança climática, por ser crucial para a preservação da vida humana no mundo, tomou a dimensão de importante componente econômico para alocação de capitais e para o consumo de mercadorias e serviços. Empresa que entender e se adequar suas estratégias a essa nova realidade, definirá sua continuidade e crescimento. Ao contrário, aquela que não se adaptar a essa exigência mercadológica, pode antecipar o seu definhamento e desaparecimento em futuro próximo.
Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP (vivaldo@uol.com.br)
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