• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Por que somos demonizados?

Existem muitas pessoas que imaginam coisas absurdas sobre as religiões de Matriz Africana, especificamente o Candomblé e a Umbanda, e suas diversas variações. A principal acusação que sofremos é a de que nossas práticas religiosas são uma forma de adoração ao demônio. Por essa razão – e também porque em um passado não tão distante – nossos ancestrais negros foram considerados sem alma e, por isso, poderiam ser escravizados, conforme justificaram os Cristãos que colonizaram a África de forma violenta e covarde é recebemos uma herança história de demonização, preconceito e intolerância religiosa.

A perpetuação dessa mentalidade doentia continua até hoje. Somos obrigados a conviver com ataques diários aos nossos terreiros em todo o Brasil. E isso é mais comum do que você imagina. Enfrentamos preconceitos quando entramos em um mercado vestidos com nossas roupas sagradas, enfrentamos olhares desconfiados, e quase sempre é possível escutar: “sangue de Jesus tem poder!”.

E como fazemos para enfrentar tudo isso sem desistir da nossa fé? Só existe um caminho, nos apegar aos nossos Deuses, que são forças divinas cocriadoras do Universo junto ao Deus supremo, Olodumare. Quando somos iniciados despertamos em nós essa centelha de Deus que pode se manifestar através do transe, que por sinal, é um fenômeno comum em várias religiões.

No Candomblé dançamos com nossos Deuses, comemos com nossos Deuses, convivemos, nos alegramos e somos orientados a cada instante pelos nossos Deuses. É aos pés dos nossos Deuses que vamos rezar, cantar, chorar, louvar, pedir e agradecer. Somos muito felizes por isso, porque poucos têm o privilégio de conviver tão de perto com suas divindades, podendo ter essa relação filial e de amizade.

Tenho certeza que muitas pessoas não vão entender isso e vão continuar insistindo em afirmar e até mesmo gritar de seus púlpitos que somos “adoradores de Satanás” ou que nós “não temos Deus no coração”.

Uma coisa é certa, nós não somos obrigados a convencer ninguém de que somos pessoas livres, felizes, amadas e protegidas pelos nossos Orixás, Inkisses e Voduns.

E diante de tanta besteira que é falada e pregada por aí eu sou obrigada a informar que na África ancestral, o berço da humanidade, lugar onde nossas divindades habitam desde o princípio dos tempos, não existe demônio na mitologia que rege as crenças daquele povo. Povo este que trouxe o culto a seus Deuses até nós. Lúcifer, conhecido como demônio ou satanás, faz parte da mitologia cristã. Então, parem de fazer projeções mal feitas sobre nossa fé negra-ancestral.

Então, nós do Candomblé e da Umbanda não temos nada a ver com esse ser e não nos interessa quem acredita ou deixa de acreditar nele, porque para nós o maior mal que existe está dentro de nós mesmos, e só depende de nós se quisermos cultivá-lo ou ignorá-lo para viver a plenitude do bem. Para isso, não dependemos de religião, e sim, de vontade própria para conquistarmos o nosso melhor.

Viva a sua fé em paz, cultue os seus deuses sem perturbar ou tentar convencer ninguém que a sua verdade é absoluta. Se cada um viver em paz com sua fé, tenho certeza que os casos de intolerância religiosa deixarão de ser um problema.

*Mãe Edna de Oxum é Iyalorixá do Candomblé e preside o Ilê Axé Igbá Osogbô, em Várzea Grande-MT.



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