O mercado de crédito destinado ao agronegócio brasileiro vem passando por fortes mudanças que trazem oportunidades de acesso a novos agentes financiadores. Nessa esteira nasceu um movimento chamado “desbancarização”, que nada mais é do que a transferência dos recursos financeiros dos bancos de grande porte para novos players, como corretoras de valores (ex: XP Investimento), fintechs e instituições financeiras de menor porte.
As 5 maiores instituições bancárias, entre públicas e privadas, concentram cerca de 80% do fluxo financeiro investido. Ou seja, existe um potencial gigantesco de transferência destes recursos para outros agentes financiadores do setor produtivo brasileiro e em especial ao agronegócio. Esta concentração trouxe um custo bastante elevado do crédito aos brasileiros, em especial ao homem do campo, suas empresas e cooperativas agrícolas.
De maneira geral, o produtor rural sempre teve uma dependência de capital subsidiado pelo governo, através de linhas de crédito rural como o Plano Safra, cujos valores sempre foram insuficientes para fazer frente aos custos de produção e os investimentos em expansão da atividade agropecuária. Os valores disponibilizados pelo governo não suprem nem a metade da demanda de crédito do produtor rural.
A desbancarização promove um movimento do capital investido que pode e que já está sendo bastante benéfico ao mercado financeiro em geral. Além dos recursos investidos estarem mais descentralizados, ou ainda em processo de descentralização, há um aumento da concorrência e da oferta de crédito, consequentemente em melhores condições de prazos e taxas de juros.
Este amadurecimento do mercado financeiro brasileiro traz consigo novos agentes financeiros, agora muito mais capitalizados, precisando remunerar este capital, ocasionando um movimento de fomento das atividades produtivas e, entre estas atividades, destaca-se o financiamento ao agronegócio brasileiro.
Diante deste novo cenário brasileiro, os produtores rurais devem aproveitar esse maior volume e variedade de oferta e exercitar seu poder de “barganha”. Mas precisa atentar para a necessidade de estar preparado. Para acessar estas instituições, o produtor terá que se informar, buscar uma consultoria especializada ou canais como sites e até mesmo o contato direto com gerentes que atuem em sua região.
Os ditos “bancos menores” trazem linhas de crédito de “capital de giro”, por exemplo, em que o produtor rural não necessita comprovar o destino do recurso, mas deve demonstrar capacidade de pagamento. Para habilitar-se ao crédito repassado pelos fundos de investimentos, os produtores precisam em geral melhorar a gestão administrativa e financeira de sua atividade, buscando uma governança corporativa bem definida e a organização contábil bastante clara, com emissão de balanços contábeis de sua atividade e em seguida auditá-los por empresa de auditoria independente.
Parece ser complicado, mas na prática existem boas empresas de consultoria e de assessoria prontas para auxiliar neste processo, viabilizando o acesso ao crédito em melhores condições ao produtor rural. Diante deste cenário, o produtor rural, empresas agrícolas e suas cooperativas deverão buscar formas de se preparar para aproveitar as novas oportunidades de crédito. É um movimento que só tende a crescer e sairá na frente quem estiver preparado e “antenado” com as mudanças do mercado financeiro.
Pablo Padilha é consultor financeiro e diretor da agência de consultoria financeira para agronegócio COFAN.
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