A pandemia trouxe para a realidade de crianças e adolescentes em idade escolar uma dura transformação: as aulas, que antes eram físicas, passaram a ser diante de uma tela. E agora cobra um alto preço por isso, pois elas não ensinam mais.
Antes de tudo, são uma distração:
Não importa se assiste aula pelo smartphone de ultima geração, pelo computador mais antigo ou por uma Tv surrada, telas são antes de mais nada uma fonte de distração.
E, para crianças e adolescentes que estão construindo suas janelas de aprendizagem, em algum momento a falta de concentração vai existir.
Aulas em sistema EAD ou ao vivo, a dificuldade do cérebro dos mais jovens em prestar atenção é a mesma. Tela já é sinônimo de dispersão. Afinal de contas, quando entediados, acabam utilizando as telas mais para entreter do que aprender.
O foco é um fator importante para se fazer memória e conseguir assimilar a lição aprendida. Mas, a maior reclamação dos alunos expostos as aulas online é a falta de aderência ao que aprendem, justamente porque não conseguem ter foco, e logo a mente se dispersa.
Menos massa cinzenta:
Do ponto de vista prático, é evidente que as ferramentas digitais podem facilitar o trabalho do aluno. E, quanto mais fáceis e intuitivas são essas ferramentas, mais entregamos à máquina uma parte importante de nossa atividade cerebral.
Segundo especialistas, isso significa que, quanto menos nossos neurônios encontrarem matéria com a qual o nosso raciocínio consegue se estruturar, organizar e conectar, mais impossível será esse aprendizado diante de uma tela.
E hoje temos uma geração de crianças com o QI inferior ao dos pais e com menos massa cinzenta no cérebro, justamente porque é exposta às telas antes mesmo de nascerem.
Usuário ou aluno?
Uma vez adotado o hábito dos teclados e telas touch, crianças e jovens apresentam uma relação de usuário em vez de aluno. E, por definição, usuários são aqueles que têm o direito de uso, e aluno é o que recebe instrução. Olha o rolo armado!!!
Já imaginou se seu filho começa a reivindicar da escola e de você que ele merece ter notas boas simplesmente porque ele é usuário e não aluno que precisa se esforçar em aprender?
Falha na comunicação:
Um estudo feito por Patrick Perret da Universidade de Marseille diz que crianças e jovens em idade escolar que passam 50 “minutinhos” por dia em frente às telas, representam, em termos de linguagem, a 200 enunciados perdidos, ou seja, mais ou menos 850 mil palavras não ouvidas.
Gerações de crianças silenciosas na verdade serão alunos com dificuldade no trato social, em entender suas próprias emoções, e sem falar na redação desastrosa.
O mundo é feito de trocas:
De certa forma, as aulas online promovem o isolamento social, a falta de empatia e a dificuldade na gestão do tempo. E mais: gera uma abstinência de respeito ao professor que muitas vezes é ignorado enquanto o usuário checa sua rede social, vê pornografia ou fica relaxando em vez de se concentrar em aprender.
Mas, o malefício das aulas online é vivido nos menores, que são privados de trocas com os colegas, da rotina da escola, e da falta de musculatura emocional para ultrapassar obstáculos da vida real.
Não existe um único estudo nos mais de 14 anos da invenção do iphone que diga que as telas ajudam a aprendizagem, por sinal todos os estudos sobre o tema falam dos malefícios das telas.
As aulas online não ensinam mais porque nunca ensinaram, e a pandemia fez com que essa vivência cobrasse um preço alto em crianças que não conseguiram assimilar o aprendizado, em professores estressados em aprender como usar as ferramentas e a falta de infraestrutura tecnológica para fazer toda essa parafernália funcionar.
A tecnologia precisa ser meio na vida de todos nós e não fim. Quando isso acontecer, vamos conseguir aprendizados de qualidade na vida real, e não mais uma tela a distrair crianças e jovens.
Maria Augusta Ribeiro é especialista em comportamento digital e netnografia no Belicosa.com.br
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