O ano de 2021 já ficou para trás. Tornou-se pretérito. Um pretérito ainda presente na vida do país e da população. Não porque se está no segundo dia de 2022. Mesmo se estivesse na metade ou no término deste, ainda assim, em muitos momentos, o passado se apresenta como presente, e o presente como futuro, embora quando o que estiver por vir chegar de fato, o hoje se transformará no ontem, e assim por diante. Aritmética não tão difícil de ser entendida. Basta se der uma olhada às feridas abertas em 2021, e perceber que elas estão longe, muito distante de cicatrizarem. Não é para menos.
São mais de seiscentas mil mortes pelo Covid. Mortes que provocaram dor, e arrancaram lágrimas de familiares e amigos. O líquido que brotava dos olhos secou. Talvez tenha secado, ou temporariamente secado. Mas as gotas, que vem da alma, tão salgada quanto aquele, continuam escorrendo pelo corredor formado pelas camadas das feridas, a exemplo do leito do rio, cujas águas também despertam lembranças. Um lembrar acompanhado de saudades. Saudades de quem jamais voltarão.
Resta a memória. Memória de um tempo vivido. Vidas que ficaram pelo caminho, enquanto outras mantem a caminhada, a despeito dos infortúnios, os quais mais se parecem com labirintos, ou obstáculos. Vencê-los, está longe de ser tarefa fácil. Ainda que para alguns possam ser menos difíceis, e para outros, mais complicado de ser transpostos.
O importante é não desistir. Pode até se fazer uma parada, um recuo ou algo parecido. Nunca a opção pela desistência. Já se tem experiência suficiente. Até porque o nascer se deu com dor, tanto da mãe como do nascido, pois fora arrancado de onde vivia antes, e foi levado para uma situação completamente nova, cuja primeira tarefa foi aprender o trieiro dos seios maternos, e, depois, se acostumar com o desconhecido. Aprender sempre. Inclusive a andar, após a experiência de engatinhar, e igualmente expressar seus desejos.
Força da sobrevivência. Sobrevivência nada fácil para ninguém. Dificílima para muitos. Muitos que estão presos no calabouço social, nas prisões da extrema pobreza, obrigados a se socorrerem as sacolas de lixo, espalhadas pelas margens das ruas, ou dos lixões, ou esperarem nas filas de “ossinhos”, ou de doações de cestas básicas. Situação imutável. Pelo menos é o que parece. Ainda que não se queira acreditar nisso.
Afinal, a ausência de políticas públicas é tão nítida, claríssima quanto às águas do velho rio logo no seu nascedouro, sem os dejetos que lhes são jogados pelo percurso. Quadro que se agrava com o crescimento minguado da economia, e ainda a persistência de governantes com as mesmas políticas, as quais só beneficiam a uma ou outra atividade econômica, em detrimento das enormes possibilidades que se teriam.
Consequentemente, a não queda do número de desempregados, o baixo atrativo de investimentos, o que faz a economia crescer muito aquém do esperado e do necessitado. Um país ou um Estado preso a uma única atividade econômica, infelizmente, nunca combaterá a desigualdade social, tampouco a pobreza, até porque seu caráter é produzir riqueza para poucos, mesmo que a pobreza cresça como tiririca nos cerrados, matas tropicais, matas ciliares e nas áreas destinadas a produção de subsistências.
Verdade necessária de ser dita. Ainda que diante dos desdéns de tantos que não soltam suas mãos para nada das tetas da vaca leiteira chamada Estado. Um Estado que é o mesmo de 2021 e o de 2020, quando se teve escancarada de vez as entranhas da saúde pública, enquanto o fogo queimava, ou queima a Amazônia, alcançando o cerrado, e deste chegou ao Pantanal.
Ainda que negado pelo discurso oficial, apesar das imagens da obviedade e das fotografias dos fatos. Nem, por isso, se deve desistir. 2022 está no seu começo. As eleições batem à porta. Aliás, está coluna deseja aos (e) leitores o pulsar do coração, impulsionar da alma, somado ao agir com determinação e afinco. E, desse modo, um ano novo cheio de coisas boas e de muitas realizações, sempre guiados pela luz divina. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político.
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