Um dos maiores danos colaterais causados pela pandemia da covid-19 se dá na renda e no emprego. O mercado de trabalho foi o que primeiro acusou o baque do isolamento social e, ao mesmo tempo, é um dos setores da economia que mais demora a retomar tração após dezoito meses de combates intensivos às tragédias sanitária e econômica causadas pela doença. No Brasil, os estragos que afetam a renda das famílias ocasionam aumento das desigualdades sociais e da pobreza.
Estudo realizado pelo economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), publicado nesta semana, demonstra que o aumento da pobreza se deu de forma generalizada em todos os estados brasileiros. O trabalho comparou o percentual da população considerada pobre entre o primeiro trimestre de 2019 e janeiro a março de 2021. Utilizou a métrica definida pelo Banco Mundial para classificação da pobreza, que é a renda per capita de até U$ 5,50 por dia, o que equivale a cerca de R$ 450,00 por mês, considerando a atual taxa de câmbio pela paridade do poder de compra. O economista fez os cálculos tomando por base os dados de renda da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua e da Pnad covid 19, ambas realizadas mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O trabalho evidencia que aumento foi mais intenso na região Nordeste e em estados com grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo, nos quais a participação do setor de serviços tem expressão maior na dinâmica de suas economias. O estudo mostra que o percentual da população pobre teve aumento em 24 dos 27 estados da federação brasileira.
Os três estados que não apresentaram expansão da pobreza foram Acre, Pará e Tocantins. No entanto, esses mesmos já apresentavam elevada participação da pobreza em suas populações antes da pandemia. No Acre, 46,4% , Pará 45,9% e Tocantins 35,7%. Mantiveram os níveis de pobreza, entretanto em patamar bastante elevado. Estados com economia desenvolvida como São Paulo e Rio de Janeiro também tiveram crescimento da pobreza. Em São Paulo, por exemplo, a pobreza aumentou de 13,8% em 2019 para 19,7% em 2021. No Rio de Janeiro, a pobreza subiu de 16,9% para 23,8%. O aumento da pobreza nos grandes centros urbanos é explicado por terem suas economias muito focadas no setor de serviços como entretenimento, turismo, viagens, alimentação, eventos, hospedagem, justamente os mais atingidos pela necessidade do isolamento social.
Em Mato Grosso, a pobreza evoluiu de 15,3% da população (2019) para 21,7%. Com forte participação da cadeia da agropecuária na formação do seu PIB, o estado situa-se entre os que apresentam com menores percentuais de sua população em situação de pobreza, atrás de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. No geral, o percentual médio de pobreza do Brasil passou de 25,2% no primeiro trimestre de 2019 para 29,5% no primeiro trimestre de 2021.
A dinâmica da pobreza, durante a pandemia foi mitigada pela distribuição do auxílio emergencial. No período de maio até setembro de 2020, quando houve o pagamento de valores de R% 600,00 e R$ 1.200,00, houve redução da pobreza, voltando a crescer no último trimestre de 2020 quando os valores foram reduzidos e de janeiro a abril de 2021, quando os pagamentos foram interrompidos.
A expectativa de especialistas e analistas econômicos é que os níveis de pobreza sejam reduzidos a partir do segundo semestre de 2021 com o retorno dos pagamentos do auxílio emergencial e também com a retomada da atividade econômica. Ambos os movimentos reaquecerão o mercado de trabalho formal e informal. Mas a redução da pobreza será lenta e apresentará resultados melhores apenas a partir do primeiro trimestre de 2022.
Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA- Gestão Financeira Empresarial pela FIA/USP (vivaldo@uol.com.br)
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