• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Água, malte, lúpulo e carne vermelha

O brasileiro adora churrasco, principalmente quando acompanhado de uma boa cerveja gelada.

É justamente por isso que a publicação de uma famosa marca de cerveja mexeu tanto com importante parcela de consumidores. Ao fazer uma postagem sobre o Dia Mundial Sem Carne, a empresa atingiu, negativamente, produtores de carne e pessoas ligadas ao segmento agropecuário que, de uma forma quase que inédita, se mobilizaram para repudiar a cervejaria, criando uma campanha que movimentou as redes sociais e chegou até os principais noticiários brasileiros.

Confesso que fiquei impressionado com a adesão dos produtores. Alta carga tributária, falta de infraestrutura, juros altos, nada disso foi mais forte do que a traição da estimada bebida. Doeu, eu entendo, é como se um produto que apreciamos simplesmente falasse que não precisa de você.

A força que vem do campo é muito grande. O setor agropecuário possui a maior bancada estruturada no Congresso Nacional. Mesmo assim, fatores primários ainda emperram o setor, como comunicação, posicionamento e marketing.

Voltando ao caso da cerveja, será que foi só isso? Um insulto à cadeia produtiva, um desrespeito à pecuária nacional, uma ofensa aos apreciadores do bom e velho churrasco? Acredito que não, seria muita incompetência de uma empresa global tão bem estruturada. Foi uma estratégia de marketing, equivocada, talvez com foco num potencial mercado de consumidores vegetarianos.

Nos supermercados, a prateleira antes escondida de proteína vegetal virou seção, são itens dos mais diferentes segmentos voltados para as pessoas que não querem comer produtos de origem animal.  Isso é mercado. Se tem quem compra, tem quem vende, e vende caro.

Os alvos não são as marcas. É preciso chegar ao consumidor, ele é o chefe. É ele quem dita o que as empresas colocam no mercado. É hora de olhar para dentro e para fora, identificar os pontos fortes e convergentes e construir, em conjunto, a agenda positiva para o setor.

O Brasil produz uma carne de excelência. O padrão de qualidade das indústrias brasileiras está acima da média mundial. No campo, a pecuária está cada vez mais moderna, tecnológica, produtiva e sustentável, gerando riqueza e desenvolvimento dentro e fora da porteira.

A cadeia de valor da carne bovina brasileira precisa mostrar o que faz de bom. Afinar o discurso e acertar o tom é o caminho para chegar até o consumidor. Estamos falando de relacionamento, comunicação e estratégia.

 

Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria.



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