O discurso político é o lugar de um jogo de máscaras. Nada de “quase”, ou de “mais ou menos”. Foi, é e será sempre um discurso de máscaras, independentemente do campo ideológico de quem o pronuncia. Esta frase já foi dita e escrita nesta coluna por diversas vezes. Repetida incansavelmente em comentários de TV e de rádio. Outros estudiosos, bem antes, se valeram dela repetidamente. Ela chama a atenção para uma simples observação: não se deve prender tão somente ao que as palavras dizem, mas também ao que se encontra por trás de cada uma delas. Isto é: o leitor, ouvinte, telespectador e o eleitor, independentemente da corrente ideológica, deveria se atentar a mensagem contida “nas entrelinhas”.
Lembram-se, (e) leitores, desta recomendação? Recomendação tantas vezes feita por professores e professoras do ensino fundamental, médio e até superior. Infelizmente, não levada tão a sério pela maioria de seus alunos, até por conta do esforço reflexivo que se tem que fazer. Mesmo assim, a tal recomendação se fez e faz-se presente, ainda que de maneira sutil ou não de modo tão escancarado, embora em época de caça às bruxas, ou em período em que acusa a educação de ter “virado” “esquerdizante”. E, por conta disso, dizem, tem que ser combatida, o que esconde o real interesse de seus acusadores, no exato instante em que “vende” a ideia de que o seu discurso, apenas o seu, retrata a verdade. Bla, bla, bla.
Nada disso. Todo discurso é o lugar de um jogo de máscaras, cujas palavras tomadas pelo que dizem e não dizem. Vejam, (e) leitores, o do ex-juiz federal Sérgio Moro, que fizera um discurso político (ou alguém dúvida disso?), em seu anuncio de saída do Ministério de Justiça e da Segurança Pública. Claramente, diz que o presidente da República, Jair Bolsonaro, desde o primeiro semestre de 2019 pretendia substituir o diretor-geral da Polícia Federal, o delegado Maurício Valeixo, por alguém que lhe fosse mais próximo. Substituí-lo sem uma razão apropriada, “uma causa normalmente relacionada a uma insuficiência de desempenho ou um erro grave”. Acusou o presidente de ter “violado uma promessa de carta branca”; bem como a de “interferência política na Polícia Federal” – referindo-se a insistência da troca no comando da Polícia Federal. Interferência que, segundo o ex-juiz, o próprio presidente chegou a confessar para ele de que se tratava mesmo de uma “interferência política”. O presidente também se mostrou preocupado com “inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal e que a troca também seria oportuna da Polícia Federal por este motivo”. Mas a fala do ex-ministro, nas entrelinhas, traz igualmente sérias denúncias: (1º.) a de que o presidente tem interesses em relatórios da Polícia Federal. E isto, claro, responde o porquê o presidente queria tanto e, por fim, realizou a dita exoneração; (2º.) a de que ele, o ex-ministro, não concordou com a exoneração do ex-diretor, e não assinou o tal decreto, então, como se explica o fato do nome de Sérgio Moro aparecer na dita exoneração (vide o DO, de 23 de abril de 2020)? Registra-se aí uma mentira; (3º.) o ex-diretor não pediu para sair, porém de acordo com o Diário Oficial, a “exoneração foi a pedido” (outra mentira).
São denúncias, ainda que implicitamente, fortíssimas, e que deveriam ser todas investigadas, até para que se possa saber com quem está a verdade: com o presidente ou com o ex-ministro. Além disso, Sérgio Moro também procurou vender o seu peixe ao fazer um rápido balanço de sua atuação à frente do ministério, uma ou outra de forma exagerada, supervalorizou a sua estadia na magistratura, na Lava-Jato, e, por fim, afirmou que “sempre” vai “estar à disposição do país para ajudar”. O recado foi dado, e bastante claro. É esperar. Ver a sua próxima cartada. É isto.
Lourembergue Alves é professor universitário e analista político. E-mail: lou.alves@uol.com.br.
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