A democracia é feita pela força dos movimentos. Longe de serem organismos artificiais ligados aos poderes públicos, os movimentos se constituem pelo esforço da sociedade em construir pontes, apontar caminhos, protestar e impulsionar agendas. O ronco das ruas tem uma potência que pode mudar o rumo dos acontecimentos e os destinos de uma nação.
Foram movimentos populares espontâneos que exigiram reação dos poderes públicos quando George Floyd foi brutalmente assassinado em 2020 nos Estados Unidos. Foram as manifestações organizadas por movimentos brasileiros que forneceram impulso para o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e também para o de Fernando Collor em 1992. O engajamento antiapartheid na África do Sul foi responsável por acabar com décadas de uma brutal política de segregação racial no país.
Os exemplos são os mais diversos, mas fato é que diante da força mobilizada e também organizada do povo, não há mudança que seja impossível de ser conseguida. O povo na rua faz toda diferença e nas poucas vezes que a população brasileira resolveu lutar por uma causa, em tom uníssono, conseguiu mudanças profundas. Assim foi na campanha das Diretas, que impulsionou a redemocratização e em apoio a Lava Jato, arrastando milhões de brasileiros para as ruas indignados com a corrupção.
Se nosso país deseja mudar, precisa ir além da política tradicional, ou seja, os brasileiros precisam se movimentar pela mudança, articular formas de pressionar os poderes públicos mobilizando a sociedade civil. Se nosso país deixar a mobilização de lado, se tornará refém de decisões de gabinete que entregam caminhos prontos sem ouvir os desejos do povo e as ruas precisam ser soberanas diante dos gabinetes.
Líderes que inspirem movimentos são também parte da equação. Vimos isso durante o período de impeachment e também durante a Operação Lava Jato. Dali nasceram movimentos que foram fundamentais para desenhar as mudanças que estavam por vir e encomendar a maior renovação do Congresso Nacional em mais de três décadas. Os líderes de grande parte destes movimentos que tomaram as ruas, enfrentaram as urnas e assumiram mandatos, agora com o desafio de estar do outro lado da vida pública.
Diante da polarização que vivemos, na qual os eleitores estão sendo colocados diante da desconfortável decisão de ter que escolher por exclusão, ao invés de opção, tem surgido com cada vez mais força movimentos da sociedade civil que desafiam esta lógica. Os brasileiros identificados com os valores da Lava Jato, por exemplo, se tornaram um grupo coeso e certamente farão diferença no próximo ciclo eleitoral. O grupo escolheu Minas Gerais como base de lançamento de um movimento nacional que recebeu Sérgio Moro em Belo Horizonte. Outros grupos, mobilizados por outras temáticas, também se movimentam em diferentes áreas.
Este exemplo mostra que a forma de fazer política está mudando e os partidos já entenderam que este caminho pode ser irreversível. Aqueles que não tiverem a força de um movimento por trás podem perder tração e eleitores. Fenômenos como a identidade e seus desdobramentos estão mais presentes em setores organizados da sociedade do que em agremiações artificiais que não representam mais os eleitores. A força dos movimentos está mudando a forma de fazer política. A conferir.
Márcio Coimbra é Presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica e Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal.
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