• Cuiabá, 03 de Dezembro - 00:00:00

Arte do Possível

O governo tem diante de si o maior dos desafios: lidar com os labirintos do Congresso Nacional. As câmeras que registraram o chefe do GSI, no dia 8 de janeiro, tornaram inevitável a instalação da CPMI e governistas e oposição já posicionam suas tropas para tentar colher dividendos políticos da investigação. Isso significa que além de ter que lidar com a pauta cotidiana, o Planalto terá uma nova frente de batalha.

O Congresso Nacional que Lula tem diante de si é muito diferente daquele que encarou em 2003, quando ocupava a presidência pela primeira vez. No comando da Câmara, quem dá as cartas é Arthur Lira, político alagoano, desafeto de Renan Calheiros e que mantém diante de si pleno controle dos mecanismos políticos do Salão Verde. Ao contrário do passado, quando Lula contou com os aliados João Paulo Cunha, Aldo Rebelo, Arlindo Chinaglia e até Michel Temer, agora, o jogo é pautado pela cautela.

Se os desafios já eram grandes com votações como arcabouço fiscal e reforma tributária, tudo se tornou mais caro, custoso e demorado com a implantação da CPMI, isso porque o governo terá que negociar (e muito) os espaços, relatorias e holofotes em cada uma dessas frentes. Se para um governo, conviver com uma CPI já é desgastante, lidar com uma investigação desta envergadura nos primeiros meses de mandato torna a arte de governar ainda mais difícil.

A articulação política do Planalto precisa encaixar jogadas precisas, inserindo os parlamentares certos para cada uma das tarefas que tem diante de si. Uma CPI necessita de um tipo de parlamentar mais combativo, disposto a ir para o embate, porém sempre deixando espaços para nomes mais estratégicos, que pensam na cadência do processo e no andamento das investigações.

No plano da discussão das propostas econômicas, é preciso contar com nomes mais articulados, que saibam convencer e tenham como qualidade política a prática do diálogo e a construção de consensos, com bom trânsito nas pastas da economia. Isso será essencial para fazer com que o parlamento aprove os mecanismos de disciplina fiscal e encaminhe a discussão de reforma tributária, essenciais para baixar os juros.

Certamente não haverá facilidade, porém, é preciso optar por nomes que consigam abrir caminhos em diferentes frentes, pois do outro lado, a oposição virá com uma tropa de choque disposta a fazer barulho, uma vez que fora do governo, tem como missão única o ataque, a construção de versões e narrativas que agradem o seu próprio eleitorado. Infelizmente, uma vez mais, para além da verdade, viveremos a guerra de narrativas.

Fato é que Lula venceu por estreita margem e no parlamento não conta com o mesmo conforto que já experimentou no passado. Isso torna a tarefa de governar e aprovar seus projetos algo muito mais desafiador. Se o governo se mover com habilidade para o centro, assim como fez na campanha, as chances de êxito serão maiores. O Planalto precisa ter isso em mente para não correr riscos que sejam desnecessários, afinal, estamos falando de política e aqui, mais do que em qualquer outro lugar, estamos tratando da arte do possível.

 

Márcio Coimbra é Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FPMB) e Presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica. Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal.



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