Cresce a preocupação sobre como o governo Bolsonaro vai conviver com alguns países sul-americanos. Manifestações, daqui e de lá, levam a uma situação incômoda. Que, além de afetar o relacionamento entre vizinhos, pode afetar amargamente o lado econômico. Comecemos pela Argentina.
Durante a campanha, Bolsonaro ficou ao lado de Mauricio Macri e contra a volta da “esquerdalha” ao poder com Alberto Fernandez. Que milhares de argentinos iriam fugir do país, como estão fazendo os venezuelanos. A coisa não pegou bem na Argentina. Macri mandou recado a Bolsonaro de que estava beneficiando seu adversário na eleição.
Ganha Fernandez, Bolsonaro disse que não iria cumprimentá-lo pela vitória e nem iria à posse. O chanceler argentino encaminhou à Embaixada do Brasil reclamação em que dizia serem “inapropriadas” as falas de Bolsonaro e também sobre a postagem de um filho dele criticando o filho do eleito na Argentina. De lá veio pedidos de Lula livre. Surge agora a noticia de que Fernandez convidaria Lula para sua posse.
Fernandez fez vista a Lopez Obrador, presidente do México. Não é somente gentes de esquerda se entendendo politicamente, o receio é que o México passe a ser o novo e favorecido parceiro econômico da Argentina. Lugar que hoje é do Brasil.
A Argentina é o terceiro maior comprador de bens do Brasil, atrás da China e EUA. Mas é o primeiro do mundo em compra de produtos industrializados do Brasil. A Fiesp fala em perdas significativas de empregos se esse comércio interromper
No Uruguai, Bolsonaro disse ter preferência pelo candidato Lacalle Pou, da centro-direita. Convocaram o embaixador brasileiro ali, falou-se em interferência, indicando que o apoio não seria bem vindo. Esquerda e direita no Uruguai olhando enviesado para o governo Bolsonaro.
Argentina e Uruguai são membros do Mercosul. Bolsonaro tem dito que, se os dois países atrapalharem a ida para a União Europeia, o Brasil poderia ir. Sugere um “Mercosul flex’ ou sem a obrigatoriedade, como numa União Aduaneira, de se um for todos vão ou se um não for ninguém vai. Será que a União Europeia aceitaria ou quer o Mercosul inteiro numa integração econômica?
No Chile, Bolsonaro tem um governo que comunga dos mesmos ideais políticos e econômicos, mas a fala dele sobre o pai da Michele Bachelet e de elogios á ditadura Pinochet, além do descontentamento da imprensa, levou até mesmo o presidente Sebastián Pinera a se manifestar contra essa postura.
A Bolívia está em convulsão e terá nova eleição. Como se mostra o quadro ali, melhor seria não meter o bedelho. Aproximação com aquele país é importante não somente no lado econômico, mas também por causa do tráfico de drogas e da violência em milhares de quilômetros de fronteiras.
Mas, no caso sul americano, talvez apareça aquele outro Bolsonaro. Antes criticou a China e pretendeu transferir a Embaixada brasileira de Telavive para Jerusalém, irritou os árabes. Recentemente foi à China e ao Oriente Médio e estendeu o tapete vermelho. O mesmo vai acontecer na América do Sul?
Alfredo da Mota Menezes é Analista Político
E-mail: pox@terra.com.br Site: www.alfredomenezes.com
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