• Cuiabá, 07 de Julho - 00:00:00

Medo, Incerteza e Esperança

Vive-se ainda sob o signo do Covid-19. Este, a exemplo de um feroz redemoinho, leva de roldão o que vai encontrando pela frente. Bem pior do que o tufão, cuja onda de ventos em formato de giratório ou circular é bastante destrutiva, mas tem seu alcance limitado. Já para o torvelino do coronavírus, ao contrário, o céu é o limite. Inexiste um único país que não tenha sido atacado.

Os números de contaminados e óbitos são crescentes, sem trégua alguma, e o estrago na economia, imensurável. Rastros avassaladores, tão nítidos quanto à claridade solar em dias quentes. Quente ou frio. Pouco importa. Nada lhe serve de impedimento. Pois tanto em um quanto no outro clima, o vírus se espalha e faz suas vítimas. Sempre se valendo do corpo de uma pessoa para alcançar as outras, e assim segue em sua caminhada de destruições, independente da cor da pele, sexo, conta bancária, casebre ou casarão, embora se saiba pelas estatísticas que os mais fragilizados sofrem bem mais, pois lhes faltam ou a resistência necessária, recursos e atenção devida de saúde.

A pandemia, desse modo, faz duras revelações, a saber: o estado caótico da saúde pública brasileira, a ausência do disciplinamento de partes da população e a irresponsabilidade de governantes e de parlamentares.  

Tripé antigo. Bastante frequente nos cenários do pretérito, que não contaram com o Covid-19, como do presente. Frequentará, por certo, o futuro. Afinal, é pouco provável que se está aprendendo com a situação vivida. Nisto não há novidade. Novidade seria se o resultado chegar a ser outro, distinto do que se pensa que será. Esta é a única certeza que se tem neste ambiente conturbado e preocupante.

O preocupar-se, legítimo e natural, não afugenta com a esperança, ainda que esta seja, por vezes, apenas um fio. Esperançar que se soma a outro verbo, o de esperar. Duas ações que se entrelaçam, e se ligam a uma mesma direção, mesmo que contrária às correntezas da destruição promovida pelo vírus, embora de conjugação e de significado diferenciados. Esperar-se, e tem-se a esperança de que o amanhã, ao abrir as cortinas do novo horizonte, venha acompanhado da tão esperada vacina, capaz de por fim ao Covid-19, ao menos o seu espalhamento.

E, então, se possa novamente sorrir. Sorriso, ainda que seja entre lágrimas, pois já são muitas as vidas ceifadas. Perdas que provocam uma dor insuportável aos familiares e amigos. Amigos e familiares que, com certeza, não aproveitaram plenamente das companhias dos que se foram. Estão arrependidos? Certamente estão. Arrependem, amargamente, de não ter estado, antes, mais juntinhos com os que partiram para nunca mais voltar, vividos mais lado a lado com eles. Lamentam bastante. Também por ter arranjados as mais variadas desculpas, duas das quais, contudo, se destacaram sobremaneira: o da falta de tempo e o da distância.

Lamento e arrependimento que podem ser entendidas como uma das lições proporcionadas pelo vírus, que se mantém firme em sua expansão diabólica. Ajudado pelo descuido das pessoas e pela irresponsabilidade do presidente, governadores e prefeitos.

Foram irresponsáveis por não se prepararem, já que tiveram tempo suficiente para tal, uma vez que o país foi um dos últimos a serem atacado, e Mato Grosso, um dos derradeiros Estados brasileiros a ter registros de infectados e de mortes. Erraram lá atrás, e continuam errando. Erram por não darem as mãos contra o inimigo comum, e erram por baterem cabeças, ao ficarem presos com seus interesses individuais, partidários e eleitorais. “Script” nacional e regional. O que provoca mais incertezas, e incertezas que se associam a medos.

Medos e incertezas são consequências, mesmo contrastando, estão em alinhamento com desenho de fundo, em alto relevo de um triste quadro, cuja imagem de fundo é o latente despreparo dos gestores dos governos federal, estaduais e municipais, combinada ao estilo, às cores e o tema de um país a deriva em alto-mar. É isto.

 

Lourembergue Alves é professor universitário e analista político. E-mail: lou.alves@uol.com.br.



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