• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Afinal a educação transforma?

Nesta semana fui negativamente surpreendido com uma reportagem do Jornal Valor Econômico que apresentou um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre educação. Os dados mostravam que o efeito da educação sobre a distribuição de renda no curto prazo é limitado e também que, mesmo a longo prazo, "a educação não é uma panaceia distributiva".

Confesso que isto me incomodou e, na mesma hora, busquei dados para tentar entender melhor o assunto que mexia com algo que é quase uma crença minha. O estudo em si é baseado em projeções. Foram feitas estimativas sobre qual seria o efeito sobre a renda e, consequentemente, a desigualdade caso o nível de educação formal fosse maior.

O que se verificou, segundo o modelo, foi que apenas a longo prazo, cerca de 50 anos, com toda a população desenvolvendo nível superior o índice de desigualdade melhoraria 10%. Sem dúvida um número muito distante das minhas expectativas. Procurei e encontrei no trabalho fatos que indicassem pontos críticos da análise e projeção.

Certamente o mais importante foi a premissa assumida de que, mesmo com uma população com maior nível de educação as fontes de rendimento e outros efeitos permaneceriam os mesmos. Esse ponto, por si só, já me faz acreditar que minhas crenças não estão muito erradas, afinal, assumir que o mundo seria o mesmo com uma população que adquiriu mais conhecimento é esperar muito pouco dela.

Um fato simples que indica que o mundo não seria o mesmo se as pessoas tivessem maior nível de educação formal é o próprio mercado da educação. Em países onde a população tem mais estudo, os gastos com educação são significativamente maiores.

Segundo dados do Banco Mundial, apenas considerando os gastos do governo - para o último dado disponível - entre 2011 e 2015 - os 10 países com maior investimento per capita em educação formal aportaram US$ 3.954,26 por habitante, enquanto o Brasil investiu US$ 546,61.

Porém, mesmo olhando os dados com muito cuidado vi que o Brasil ocupa a posição número 56 no ranking de investimento per capita em educação formal. Uma posição relativamente boa e com investimento muito superior ao que vem depois no ranking.

Isto nos traz ao ponto importante do estudo e que de fato não podemos negligenciar. A educação sozinha de fato não tem um potencial tão grande de transformação. Isto porque a educação, especialmente, a formal, no padrão atual, é uma fonte básica de conhecimento e o conhecimento sozinho não gera transformação.

Para ocorrer uma melhoria efetiva de vida é preciso desenvolver competências, que além do conhecimento necessitam de habilidades e atitudes. Mais do que educação, é preciso haver uma mudança de atitude, para que de fato todo este potencial conhecimento seja transformado em inovação e negócios. Por isso iniciativas como a dos programas de empreendedorismo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e dos programas de liderança do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) são fundamentais para tentar mudar a cultura e gerar resultados.

Se encararmos a educação como o processo formal consolidado atualmente nas escolas as projeções do estudo feito pelo Ipea estão corretas. Porém, se a sociedade lutar por uma educação transformadora que vá além da perspectiva de oferecer conhecimento, a educação pode ser sim uma fonte fantástica e surpreendente de transformação.

Otávio Celidonio é engenheiro agrônomo e está superintendente do Senar-MT.



0 Comentários



    Ainda não há comentários.