Tenho estudado bastante os aspectos sociológicos que movem a cabeça dos eleitores brasileiros com vistas à eleição em 2018. É uma confusão só! Varia da indignação mais radical ao conservadorismo mais tradicional.
Os institutos de pesquisa, os sociólogos e os estudiosos da política estão perdidos na imensidão do deserto árido que a política brasileira construiu pra si mesma. Há um Brasil construído cuidadosamente desde sempre por homens que se intitularam líderes políticos e empresariais. Aos poucos misturaram as duas coisas e construíram um império particular sobre uma base corrompida.
Sem princípios, sem solidariedade e nem compaixão social. Muito menos patriótica. Entre soluços construiu-se o Brasil que, de repente, se depara com a sua desconstrução neste dolorido 2018.
Estudos e pesquisas ainda não revelam sintomas do que as urnas irão revelar. Depois, quem sabe, de 2019 em diante começará a construção do Brasil real?
Tomo a liberdade de exemplificar aqui em casa. O nosso querido e velho Mato Grosso foi construído em cima do capital econômico da pecuária pantaneira, mas sustentado pelos recursos públicos. Explico. Pecuária pantaneira ineficiente sem qualquer base científica. Mas sustentava elites bovinas vivendo entre Paris, Rio de Janeiro, São Paulo.
Como, se a pecuária era ineficiente? Mas era protegida por fortes benesses fiscais e vantagens públicas através dos políticos eleitos pela pecuária com, o vago propósito de trabalharem por uma paupérrima população rural. Conclusão: a pecuária, leia-se economia da época, e a política eram gêmeas nos interesses de proteger governantes e políticos.
Lá se vão 50 anos. Mas no Brasil as poderosas entidades da indústria, do comércio e da agricultura ainda vivem à sombra das vantagens e dos benefícios públicos. A política continua representando esses interesses como no passado.
Parece que pela primeira vez vão se encontrar nas urnas de 2018 a chateação indignada de parte da população e uma parcela alheia a tudo. Qualquer conflito é saudável. Gera sempre soluções. A médio prazo as duas parcelas da sociedade vão se mexer.
Será uma longa estrada. Mas estará começando exatamente neste emblemático ano de 2018. O estado, o país e o mundo não toleram mais a convivência desse tradicionalismo cruel frente à evolução galopante.
No futuro os cientistas vão se envergonhar de precisarem retratar os tempos atuais e perguntarão certamente: como os brasileiros suportaram por tanto tempo tamanha indignidade?
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
Ainda não há comentários.