Um conceito da sábia política mineira é de “a versão não pode valer mais do que o fato”!
Na atualidade brasileira o fato não conta como verdade. Conta como elemento pra se construir narrativas. A versão é quem conta e será contada como se fosse a verdade. O fato morre a partir do momento em que passa valer a narrativa.
Exemplo recente: os fatos do dia 8 de janeiro perderam completamente a importância depois que foi criada e passou a valer a narrativa de golpe e de ato terrorista. É assim que a História vai registrar no futuro. O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff ganhou a narrativa de golpe, mesmo tendo sido conduzido pelo Congresso Nacional legitimamente eleito, e presidido no ato pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, como manda a Constituição.
Todos os temas ligados a alguns setores da atualidade, como o ambiental, o étnico, o religioso, as questões de gênero são discutidos e tratados sob a linguagem das narrativas. Por sua vez, a narrativa pede um discurso uniforme de quem a criou e espalha. Todos precisam dizer a mesma coisa e repetem um velho conceito do nazismo de Hitler, pregado pelo seu ministro da propaganda Joseph Goebbels, segundo o qual uma mentira repetida mil vezes vira verdade
No Brasil desde o impeachment de Dilma todos os fatos perderam a importância e foram completamente substituídos pelas narrativas. No período do governo Jair Bolsonaro o país viveu absolutamente de narrativas. Cito o pior dos exemplos. A pandemia do Covid 19 foi totalmente de narrativas. Primeiro sobre a real existência da doença, depois sobre a sua gravidade, depois sobre a compra, a validade e a necessidade das vacinas. Depois o número de mortos. Depois a falta de oxigênio nos hospitais. Depois a roubalheira generalizada nos recursos sobre respiradores, hospital de campanha, etc. Resumindo: a Covid 19 no Brasil nunca saiu do campo das narrativas do governo, do Judiciário, do Congresso Nacional, da mídia e dos laboratórios, dos médicos, dos hospitais dos partidos políticos, dos políticos da economia e da população. Uma torre de Babel.
Dificilmente saberemos a real dimensão da pandemia. Mas na internet estão gravadas todas as narrativas. Os fatos estão perdidos pra sempre!
No governo Lula, a esquerda que forma a frente de partidos de apoio, constrói todos os dias uma onda enorme de narrativas que destroem completamente qualquer verdade. Vai desde uma possível falsa pneumonia do presidente pra justificar o adiamento de viagem à China, até a ida na conferência do meio ambiente no Egito sem pauta e nem teses, baseadas em narrativas. Ou a visita vazia ao presidente do Estados Unidos, à Argentina e aos Emirados Árabes. Tudo envolto em narrativas muito distantes do fatos reais.
Lá no Congresso Nacional CPIs patinam sobre narrativas dos presidentes das Casas. Os fatos reais perderam toda a importância. Foram substituídos por narrativas de ocasião. E o país patina num mar de mentiras.
Seria injusto culpar só o governo Lula. As narrativas vem há mais tempo. E o Brasil vive de mentiras. Talvez aqui esteja o grande problema. Vivemos de mentiras. Quem mente acredita. Quem ouve acredita. E a História diária vai desaparecendo, prostituída pra atender a narrativas do momento.
A principal consequência é não sabermos com qual Brasil estamos lidando: o real dos fatos ou o das narrativas. Lá na frente teremos que reconstruir a verdade de um Brasil que aprendeu a conviver e a se pautar pelas narrativas criadas pra esconder a História da nação. Preços assim serão muito altos quando a lucidez voltar ao Brasil.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.
Ainda não há comentários.