Os professores da disciplina de Ética costumam ensinar aos seus alunos que a vida em sociedade exige um comportamento balizado pela existência do "outro". Em nossa vida, há aquilo que queremos, aquilo que podemos e aquilo que devemos. Nem sempre aquilo que quero eu consigo ou devo fazer.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, já teria, naturalmente, destaque e seria elevado à condição de presidenciável pelo simples fato de ser governador. Mas, além disso, o destino fez de Jair Bolsonaro inelegível e tal fato abre espaço para ambições planaltinas. A inelegibilidade de Bolsonaro já trouxe à tona pesquisas de quem seria seu sucessor, aquele que herdaria seu espólio eleitoral. Nesse caso, as sondagens quantitativas e qualitativas trazem, em primeiro lugar, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (20%), seguido de Romeu Zema (17%), Michele Bolsonaro (16%), Eduardo Bolsonaro (6%) e Sérgio Moro (1%) – dados da pesquisa Ideia publicada em 15 de março, pelo Valor Econômico.
Não há, prezados leitores, político que não tenha sua ambição reforçada com intensidade tendo acesso a uma pesquisa que lhe coloca com 20% entre o eleitorado bolsonarista na ausência de seu principal nome: Jair Bolsonaro. Logo após os ataques aos Três Poderes, no dia 08 de janeiro, Tarcísio, assim como a grande maioria das forças políticas, se afastou do bolsonarismo, do extremismo conjugado à violência. Depois, houve a inelegibilidade de Bolsonaro e, mais recente, um encontro entre ambos com divergências que vieram a público no que tange à reforma tributária. Bolsonaro sabe que, politicamente, o poder não fica órfão e que sua ausência da próxima disputa eleitoral abrirá luta encarniçada pelo protagonismo na direita e na extrema-direita.
Nas últimas semanas, Tarcísio ganhou destaque na mídia. Uma operação policial desencadeada logo após ao assassinato de um policial da Rota acarretou inúmeras mortes no litoral do estado. Antes de finalizadas as investigações, o governador, em entrevistas, afirmou que não via excesso por parte da PM e que a resposta foi proporcional. Foi, imediatamente, criada a situação na qual os opositores teceram críticas a Tarcísio, lembrando-o de que a letalidade da polícia paulista aumentou sob sua gestão. Mas, se há críticas, os elogios também estão presentes, pois a segurança pública e a resposta dura à criminalidade são pautas caras ao bolsonarismo e sempre rendeu votos a Bolsonaro. No balanço, o que o governador escolherá? As críticas ou elogios, moderar ou intensificar ações policiais?
Já no campo da educação, o Secretário de Educação – Renato Feder – fez movimentos, já abortados, de se desprezar os livros que, sempre, estiveram presentes no ensino público estadual e que são enviados pelo Governo Federal. Em sua visão, os livros digitais seriam adotados em detrimento dos livros físicos. Nas palavras de Feder: "A aula é uma grande TV, que passa os slides em Power Point, alunos com papel e caneta, anotando e fazendo exercícios. O livro tradicional, ele sai". Outro ponto de tensão para a comunidade escolar, especialmente para diretores de escola, é a determinação de que os diretores acompanhem as aulas dos professores e, ainda, façam um relatório de suas observações, com pontos positivos, o que pode ser melhorado, o que foi combinado e os próximos passos. De um lado, a ideia do governo de tornar o diretor, afeito às tarefas burocráticas, mais presente no espaço pedagógico; contudo, critica-se que a medida é coercitiva e visa vigiar os docentes.
Relembremos que João Doria, que foi do PSDB, prefeito de São Paulo e governador do estado, não buscou a reeleição para o governo e se lançou candidato à presidência em 2022. Queria se constituir numa alternativa ao lulopestismo e ao bolsonarismo, uma efetiva "terceira via". Dizem que seu movimento "queimou a largada" e como consequência retirou-se da vida política. Tarcísio, por sua vez, há pouco, afirmou que não seria candidato à presidência e apoiaria quem Bolsonaro indicasse. Seu recuo é estratégico.
Embora, exista – em Tarcísio de Freitas – um enorme desejo pelo Palácio do Planalto, há que verificar se ele terá a paciência necessária para continuar no Palácio dos Bandeirantes fazendo uma leitura eficaz do tempo da política que não se confunde com o tempo da vontade.
Rodrigo Augusto Prando é Professor e pesquisador do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Graduado em Ciências Sociais, mestre e doutor em Sociologia.
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) está na 71a posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa Times Higher Education 2021, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Comemorando 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.
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