No último sábado Mato Grosso experimentou o 41º. aniversário depois que foi dividido pra criar o estado de Mato Grosso do Sul, em 1977. Gostaria de contar um pouco dessa história, naquilo que pude participar. É uma história muito longa. Até participei da produção do vídeo-documentário “A Divisão de Mato Grosso”, do cineasta Joel Leão, em 2000. Um excelente documento a respeito. Talvez o melhor.
Morava em Brasília em 1976, e fui convidado pelo governo de Mato Grosso pra trabalhar na área de comunicação. Vim conhecer Cuiabá em julho. Gostei e voltei um mês depois: em 25 de agosto. No ar pesada crise política entre Cuiabá e Campo Grande por conta da divisão. Lá, a luta pela divisão começou logo após a Guerra com o Paraguai, por conta do profundo isolamento geográfico e da distância com a capital, Cuiabá. Era outra gente, outra cultura, outra geografia, outro clima e a vizinhança com São Paulo, Paraná e Minas davam outra dimensão à população.
O fato é que em 1977 o presidente da República, general Ernesto Geisel chamou a Brasília o governador José Garcia Neto pra comunicar-lhe que decidira dividir Mato Grosso. Até então apenas técnicos do governo federal visitavam Cuiabá em busca de dados pra construir a futura Lei Complementar 31, que daria as bases da separação. Foi um documento burocrático. As conversas políticas o Palácio do Planalto fazia diretamente com líderes políticos divisionistas do Sul do estado. Cito: os ex-governadores de MT, José Fragelli, Pedro Pedrossian os senadores Italívio Coelho, Mendes Canale e Rachid Saldanha Derzi.
A rigor, sobre a divisão, o norte de Mato Grosso passou ao largo. O anúncio foi dado seco e duro ao governador Garcia Neto. Por ser contra a divisão, o Palácio do Planalto, o QG da divisão, isolou-o.
Em 12 de outubro dois boeings da companhia aérea VASP foram fretados em Campo Grande pra levar a Brasília lideranças e gente importante do Sul pra assistir a assinatura da Lei Complementar pelo presidente Ernesto Geisel. Clima de festa. De Cuiabá saiu um Boeing também da VASP em clima de velório.
O futuro de Mato Grosso era muito mais incerto do que o de Mato Grosso do Sul que tinha muito melhor infraestrutura. Anos difíceis vieram. Clima de pessimismo. Mas as migrações vindas pra Mato Grosso pra ocupar a Amazônia somaram-se aos locais e se construiu os dias presentes ao longo de 41 anos.
Pouco se lembra da divisão. Hoje é apenas História. De minha parte vivi profundamente todo o processo político anterior e posterior. Mas isso é assunto pra outra conversa...
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
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