A carne se tornará artigo de luxo! A afirmação foi dada durante o XVIII Congresso Mundial da Carne, há 11 anos, na Argentina, pelo então secretário de Agricultura do país vizinho Lorenzo Basso. Na época, a reportagem publicada no jornal Folha de S. Paulo causou muita polêmica. Consumidores, produtores e analistas de mercado não acreditavam, ou não queriam acreditar no que liam. Não faltaram críticas.
O novo patamar do preço da proteína é um movimento mundial, registrado no Brasil e em todos os países produtores, como Austrália, Uruguai e Estados Unidos. A valorização é composta por uma série de fatores que vêm se acumulando ao longo dos anos. Podemos citar, entre eles, o aumento dos custos de produção, o crescimento da demanda mundial, principalmente por novos consumidores como os chineses, e a valorização do dólar, o que torna a exportação mais atrativa.
Infelizmente não podemos ignorar que a valorização do produto traz sim alguns benefícios, principalmente renda para os produtores, receita para as indústrias e emprego nas regiões beneficiadoras. E tudo isso é muito importante.
Voltando à questão produtiva, é preciso destacar que a remuneração dentro da pecuária de corte é menor se comparada a outras atividades agropecuárias, como soja ou algodão. Isso acontece porque os investimentos são de longo prazo, entre o nascimento do bezerro e o abate se vão no mínimo dois anos, tempo suficiente para produção de pelo menos quatro safras agrícolas.
E olha que esses índices têm melhorado com a adesão de tecnologias que garantem melhor produtividade na pecuária, com ganho de peso mais rápido e em menor área. Isso é produção sustentável e precisa ser remunerada.
Fato é que muitos pecuaristas têm agora uma oportunidade de recomposição de caixa, investimento em tecnologia e agregação de valor que há muito tempo vinha sendo esperada. Culpar a atividade pelo encarecimento da carne não é o caminho.
O problema não está na valorização do produto, mas no empobrecimento da população. A queda na renda da população, o desemprego, a inflação e a lenta recuperação econômica impactam diretamente no poder de compra das famílias. Dados sobre o consumo de carne mostram que sempre que falta dinheiro no bolso do consumidor, ele busca outras fontes de proteínas como aves e ovos. Ou como foi visto mais recentemente, em casos extremos, até mesmo uma fila de doação.
Esse fenômeno, chamado de elasticidade, mostra exatamente a ligação entre a renda e o consumo. Neste contexto, apontar o dedo para o produtor rural parece ser o caminho mais fácil, sobretudo para se distanciar de políticas públicas que deveriam ter sido planejadas há dez anos, quando a profecia foi lançada.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria.
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