Vivemos em uma época e em um país que a liberdade de expressão é livre, mas nem sempre é aceita. Então, onde está a liberdade? A cada dia que passa o jogo do “nós contra eles” fica mais acirrado e começa saindo da política partidária para a arte, para a religião e daí ninguém tem a dimensão de onde essa insanidade e intolerância vai chegar.
A arte não é para ser proibida. Arte é educação, é interpretação, mas arte também é cultura. E se é cultural, as leituras de mundo, a interpretação desta arte não pode ser agressão ao outro. O ser tem o direto de escolher para si e por aqueles que ele é responsável, até quando for responsável, o que é possível e o que não é possível de contato.
Não podemos exigir que o Estado tenha uma cultura impositiva e única de um grupo quando vivemos a diversidade de grupos e de pessoas. Quando lidamos com o sagrado teremos que ter respeito, ter cuidado. Onde queremos chegar provocando e ferindo os outros?
É injusto e inadequado comparar um museu francês a uma exposição feita em um local público no Brasil. Tempos históricos diferentes, culturas diferentes, acesso ao conhecimento completamente diferente. O caminho não é por aí. Segundo Gilberto Freyre, “quase nenhum sócio, seja qual for o sistema cultural a que ele pertença, está inteiramente dentro de uma época ou de um momento cultural”. Imagina em épocas e países diferentes.
Restringir como? Não podemos ignorar o poder das redes sociais e as possibilidades de espalhar textos, imagens, gravuras, pinturas e etc. através das várias ferramentas de comunicação. Rotular opiniões como sendo nazista, fascista, comunista, socialistas, esquerdopata, ou libertinas é impossível, pois na guerra do “nós contra eles” estes termos perderam o sentido e o conceito exato dos fatos e se tornaram ofensas nas bocas e nas teclas nervosas dos intolerantes de ambas as bandas.
Ignorar que racismo, machismo e sexismo é agressão, é violência, é crime, não dá. Mas precisamos saber também até que ponto impor conceitos e afrontar ao bel prazer a cultura educacional de uma família, de uma religião, de um grupo que pensa diferente, banalizar ou profanar um símbolo religioso milenar e devotado não é violência. Para Jean-Paul Sartre, “a violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”.
Precisamos evoluir e não retroagir. É ai que questiono até que ponto a insistência de apresentar em redes sociais, tevês e jornais a imagem de um Cristo deformado, ou de amuletos ou talismãs como chacota a umbanda? De uma criança tocando o corpo nu de um adulto? Não está ferindo e machucando pessoas que vivem em culturas não acostumadas com tais acontecimentos? Essas pessoas não são merecedoras respeito?
A dor é dor e o palco da vida real nem sempre tem uma coxia para apoio. A tela da vida, ou o artesanato da alma, nem sempre está exposto em uma parede por fora do nosso corpo. Corpo e mente que vivem, sofrem e sangram quando agredidos. Será que quem defende as exposições artísticas em locais de circulação pública tem a dimensão de quantas pessoas estão ferindo? De quantas pessoas estão machucando?
Liberdade e respeito é um caminho de duas mãos, o contrário disto é conflito! Conservadores não tem o direito de serem conservadores? Esquerda não tem o direito de ser esquerda? Naturistas não tem o direito de serem naturistas? Ateus não tem o direito de serem ateus? Cristão não tem o direito de ser cristão? Evangélicos não tem o direito de serem evangélicos?
Todos tem o direito de serem e educarem os seus de acordo com sua cultura, o que não pode é uma tribo impor sobre a outra seu modo de ser, uma tribo obrigar o convívio com aquilo que a fere. Não podemos sair da ditadura da maioria para a ditadura das minorias. A equidade entre as pessoas e o respeito a suas culturas ainda é a melhor política. Toda arte é boa, mas a arte do bem viver em comunidade e o respeito as tradições religiosas e familiares ainda é a melhor de todas.
João Edison é Analista Político, Professor Universitário em Mato Grosso.
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