• Cuiabá, 21 de Novembro - 00:00:00

Resignar-se até quando?

Examinando uma pequena amostra de análise dos vírus e bactérias que estão infestando a classe política, com colônias inteiras e virose nos espirros, acentuadamente em Brasília, em que pese não ser só lá, eis que já esparramados por todos os estados, que nem epidemia de sarna, sarampo, gripe, alergia e catapora, facilmente é observada pelo microscópio a natureza e estrutura tóxica e parasitária deles.

Para quem nem quer chegar perto, para  não correr o risco de se contaminar e padecer, também podem ser vistos por binóculos de alta precisão, tendo apenas o observador que se aproximar da beira de cá do penhasco, embora, se for só para ver, não haja a necessidade de descer e escalar o precipício que separa os representantes dos representados, o que garante um habitat favorável para a proliferação dos agentes nocivos à saúde pública da República, a qual continua aguardando vaga na UTI, para tentar reavivar, antes de "Inês ser morta".

Porém não é só o formato assombroso e asqueroso que chama atenção e impressiona, causando pesadelo nas crianças, mas, também, os ruídos produzidos que chegam aos nossos ouvidos são aterrorizantes, nojentos e repugnantes, sendo mais irritantes os discursos carimbados com os dígitos 171, em ritmo frenético e melodia de uma "nota só", "dó, quer dizer, "dá", de "dá um dinheiro aí", não tocando sequer um refrão de bolero, e, sim, ignomínias do início ao fim, produzidas em larga série e grande escala, por cínicos e caras-de-pau, excelentíssimos senhores vendilhões e enganadores, incluindo senadores, com algumas raras exceções, parecendo mais conveniente usar o prenome de tratamento "Suas Excrescências", com todo respeito e acatamento.

Há uma percepção generalizada de estarmos sob um eclipse duradouro de lideranças carismáticas pelo espírito caridoso e o compromisso honroso e bondoso com a nobre missão de ajudar o próximo, sem nepotismo, com altruísmo, que resgatem a esperança de mudança e de bem-aventurança para o povo.

É como se tivéssemos sido teleportados para o cativeiro babilônico, em que o contraste, senão paradoxo, para não falar de antinomia e idiossincrasia, concreta e alarmante, insuperáveis na verdade, entre a realidade vivida e descrita nos discursos e nas entrevistas da classe dominante, de um lado, enquanto, doutra banda, o jugo que tem sido imposto sobre praticamente toda a nação, obrigada a experimentar o fel amargo do leite derramado, há muito coalhado, em ato contínuo, quer dizer, concomitantemente, a exalar a podridão que ora toma conta de Brasília e, outrossim, de demais "palácios" e "autoridades", precisa ser compreendido e explicado.

Temos a difícil incumbência de buscar respostas dentro de um ambiente insólito e catastrófico, sem especular paranoicamente a possibilidade surreal de, embora sem perceber, termos sido abduzidos pela Matrix, tampouco crermos ser iminente o Apocalipse.

Somos obrigados a levantar algumas hipóteses, minimamente capazes de dar-nos o fio da meada para alguma elucidação que dê sentido ao quadro manchado, ao pano de fundo retalhado e ao telhado quebrado, tudo, apresentado como apanágio para o "Mundo Mágico de Oz", onde só vêem a "roupa do rei" os asseclas do Governo, que insistem em tentar convencer que está tudo bem, obrigado, e que as acusações de corrupção e traição patriota são intriga da oposição, ou sabe-se lá de quem.

Isso, para amenizar a sensação difusa e confusa de que, metaforicamente, uma legião de mandatários, vestindo Prada e perfumados com enxofre, como o personagem do filme, fez-nos reféns de:

A) uma epidemia de estupidez, se todo rombo, engano, infidelidade e falácias tiverem motivação, pretensão e finalidade daninhas, mediante dolo ou culpa grave, portando, imputáveis e condenáveis todas as condutas sabidas, algumas até gravadas e repercutida no Jornal Nacional;

B) um quadro crônico e agudo de delírios, alucinações, desejos, impulsos e compulsões, de uma trupe assolada por surtos coletivos de psicose ou perversão - com todo respeito a todos que portam algum transtorno de humor e/ou personalidade -, destarte, inimputáveis, todavia, destinatários de medidas de segurança, no caso, camisa de força e isolamento;

C) ou, pior, um caldo de sociopatia e/ou psicopatia, que converteu-nos, o povo, em ingredientes da sopa que estão saboreando, ou seja, num prato cheio para satisfazer a fome e o apetite implacáveis e sedentos de poder, político e econômico, daqueles que, em tese, deveriam servir, e não serem servidos da nossa carne, pele e osso, em uma bandeja de prata, numa mesa de mármore, ou do nosso sangue, bebidos em taças de cristal fino, por vampiros liderados pelo Conde Drácula que sugam até as nossas almas, postas, dispostas e expostas no abatedouro da dignidade e da decência, na grande fazenda de poucos fazendeiros e muitos peões, que virou o país, crentes de serem proprietários não só de todo o território e suas riquezas, como de milhões de gados mansos, dos nossos grilhões, como vêem e tratam-nos, reservando-se, eles, a jogar um pouquinho de farelo no cocho, porém, cobrando o dobro a título de tributos, segundo seus analistas escalados para repetir o mantra de que o que importa, em economia, não é o prato de comida, o emprego e a moradia, entretanto, o "superávit primário" para pagar a "dívida pública", ninguém sabe ao certo para quais iluminados beneficiários de toda essa fartura, muito menos o quê e se ainda devemos, depois de tantos anos pagando trilhões de reais, de uma conta que só faz subir.

Sem falar na alienação a preço de banana de tudo quanto pode ser extraído da nossa flora e fauna, dos aquíferos de água doce e potável, quando não mineral e de altíssima e raríssima qualidade, o nióbio aproveitado pelas empresas estrangeiras na fabricação de baterias dos novos celulares, smartphones, até os lugares mais recônditos da costeira brasileira, do Oceano Atlântico, no caso dos milhões de barris de petróleo do pré-sal, enquanto pagamos uma fortuna nas faturas de água e luz, no gás e na cesta básica, afora o preço acachapante do litro de gasolina e álcool, nos postos de combustíveis.

Enfim, subjugaram-nos ao estado de vítimas em massa do crime de extorsão, além do de estelionato, todo dia, configurados nas cobranças exorbitantes e na divergência entre o que prometem no breve ínterim da campanha e o que fazem no interregno de um quadriênio, ou de décadas a fio, uns quase completando bodas de prata, durando mais do que "Mum-ha" ou a múmia de "Tutancâmon", em mandatos comprados.

Não admitem largar o osso, nem as tetas, dos gigantescos e institucionalizados esquemas de espoliação citados acima, que fazem das propinas apuradas e processadas na "Lava Jato" parecerem gorjetas, principalmente se feita a equivalência, cabeça à cabeça, por exemplo, com os juros estratosféricos cobrados pelo sistema financeiro "tupiniquim", que mais se aproxima da lógica da agiotagem e da usura, do que de agentes preocupados e comprometidos com o desenvolvimento do IDH, ou com a democratização dos meios de produção e distribuição da renda e riquezas que integram um dos PIB's mais concentrados do Mundo.

Precisamos reagir, sem proselitismo partidário ou sujeitos idolatrados, e, sim, como protagonistas voluntários e conectados, não em conluio para prática de contravenções e/ou crimes lesa-pátria, repetindo a batida dos piratas.

Há que libertarmo-nos da escravidão imposta, sendo autores da escrita talhada na pedra, pichada no muro, pintada na rua e salva nas nuvens virtuais da época hodierna, para reestabelecer um significado que nos dê ânimo e disposição para continuar acreditando e sonhando com o dia em que o regime democrático e a forma republicana de inclusão e propulsão da soberania popular, além de o Estado de Direito, responsável pela promoção dos direitos e salvaguarda das garantias fundamentais de toda a população, tornem-se realidades palpáveis e acessíveis.

Não podemos nos conformar e resignar com uma Carta Magna feita de artigo lírico, só observada e realizada nas nossas atividades oníricas ou em devaneios de uma tarde de verão, encerrados em espasmos musculares e queimaduras na pele, uma vez submetidos à insolação.

Pensando bem, entre um parágrafo e outro, dedilhado no celular, depois de uma noite em claro, refletindo sobre a conjuntura da quadra atual, o correto mesmo, tanto técnica, quanto conceitualmente, é substituir o termo "devaneio" por "delírio".

Só não chegamos na dispersão e perda de contato entre a mente consciente e a realidade circundante, situação insólita em que seríamos regidos por "alucinações", por ainda não estarmos atravessando o deserto, em que desconhecemos a presença de algum oásis de verdade pelo caminho; ou uma miragem ilusória captada por ondas mentais paralelas, servindo de válvula de escape psicológica, para conter a fadiga, a labilidade emocional e a perda das funções vitais, como consequência também da desidratação e da frustração pelo desaparecimento do lago e das palmeiras, como fumaça no vento.

Não podemos nos resignar com tanta empulhação! O que diremos aos nossos filhos? É inadmissível covardia depois da valentia dos que sacrificaram suas vidas para que pudéssemos reconstruir a democracia, neste momento ferida e combalida, todavia, em via de ser defendida e restituída, ressuscitada, apesar de ter sido duramente apunhalada.

Será que vamos nos contentar em ficar em casa, apenas assistindo Netflix e YouTube, acaso a luz, pelo preço aberrante, não esteja cortada, somente podendo ser paga se vendermos nosso couro para algum curtume?

E aí Brasil, o que faremos, o que será de nós, quanto tempo mais esperaremos deitados em berço esplêndido, paralisados, no passo e compasso em que somos assaltados, à luz do sol do meio-dia, por quem já não se preocupa em sequer manter as aparências e/ou esconder as evidências dos crimes praticados, propagados pela mídia de noite e de dia?


Paulo Lemos é advogado em Mato Grosso.
paulolemosadvocacia@gmail.com



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